Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 16 de outubro de 2010

Julgamentos

Tanto tempo perdido em julgamentos
Sobre o bem e o mal da nossa vida.
Coisas em que gastamos os momentos
Da vida que devia ser vivida.
E por fim que fazer aos pensamentos
Que sobram dessa razão esquecida?
Não valem mais que mera opinião
De quem trocou razão por emoção.

A criança

A criança não tem culpa, de ter esta mãe que tem
A criança não tem culpa, do passado, que não vem
A criança não tem culpa, de esperar, só, por ninguém
A criança não tem culpa, do vazio que a entretém.

A criança não tem culpa, de estar aqui e agora
A criança não tem culpa, de ver o mundo lá fora
A criança não tem culpa, que o relógio vá embora
A criança não tem culpa, de esperar sem ver a hora.

A criança não tem culpa, e depois o que é que interessa?
Mesmo sem culpa a criança, a alegria está bem expressa
Embora por ser criança, isso às vezes desapareça
Quando se faz da criança, um adulto bem depressa.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Atletismo em Peniche

Neste tempo a varanda não servia para escrever, era mais para colocar as sapatilhas a secar.

Peniche, 198?, eu e o camarada António Preto

domingo, 19 de setembro de 2010

Soneto de todas as putas

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
...Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

Bocage

sábado, 18 de setembro de 2010

A pena, a morte e a pena de morte

A pena

“Numa mão sempre a espada e noutra a pena”
Luís de Camões, Os Lusíadas, canto VII


A pena esteve desde sempre associada à morte.
A mão que segura a pena que escreve é a mesma que empunha a espada que mata.
Temos pena de quem morre, porém inventámos a pena de morte.
Depenar uma galinha implica matá-la primeiro.
Vários usos para as penas poderiam ser referidos, como por exemplo a almofada de penas, todos eles no entanto implicam a prévia morte dos seus anteriores e legítimos proprietários, as aves.

“O pavão de hoje é o espanador de amanhã”
(autor desconhecido)

A morte

“A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim”
José Afonso, A morte saiu à rua

Estar morto não é o contrário de estar vivo, como foi alarvemente dito um dia.
Estar morto é uma consequência e uma continuação de se ter estado vivo.
Há mortos que continuam vivos nos nossos pensamentos.
Só morre quem viveu.
Não existe vida eterna, logo quem vive tem de morrer.
Morrer custa muito, sobretudo para quem está (continua) vivo.
Há quem não goste de morrer e prefira continuar vivo. Feitios.
A morte é um negócio. A natural, para os cangalheiros. A não natural sobretudo para o maior fabricante mundial de armas.

A pena de morte

Quando a pena se junta à morte, temos pena mas cria-se a pena de morte.
A pena de morte existe por todo o lado, é um facto.
Há pessoas condenadas a morrer porque tiveram o azar de estar à hora errada no local errado, o caminho da bala disparada por um qualquer assassino assaltante.
Há pessoas condenadas a morrer porque tiveram o azar de estar à hora errada no local errado, o caminho de um carro guiado por um qualquer condutor irresponsável e assassino.
Houve pessoas condenadas a morrer porque tiveram o azar de ter nascido em países possuidores de bens como ouro, canela e marfim, bens esses cobiçados pelos poderosos assassinos de então.
Há pessoas condenadas a morrer porque tiveram o azar de nascer em países possuidores de petróleo, pretendido pelos poderosos assassinos actuais.
Há pessoas condenadas a morrer de fome porque alimentá-las sai muito caro. dinheiro suficiente para isso, como porém é impossível (ao dinheiro) estar em dois sítios ao mesmo tempo, quem nos (se) governa prefere com ele alimentar contas na Suíça e em offshores do que alimentar pobres famintos.
Houve pessoas condenadas a morrer pela justiça divina, aplicada por seres humanos. Os maus, quando morrem, têm à sua espera do outro lado o caldeirão e o tridente do diabo, por isso não deveria ser preciso fazer nada, mas, não vá o diabo tecê-las e isto da religião ser tudo uma treta, é conveniente aqui deste lado dar uma ajudazinha. O que só prova que nem os próprios apregoadores das tais verdades acreditam naquilo que apregoam.
Há pessoas condenadas a morrer pela justiça do direito penal. Até têm direito a um padre nos últimos instantes de vida. Não é bem justiça divina mas anda lá perto, é quase como se fosse.
O homem, enquanto foi um animal irracional semelhante aos macacos a partir dos quais evoluiu, matava para comer. Depois, com a evolução descobriu a existência de valores e passou então a matar para se alimentar a si e aos seus valores.

Na vida e na morte, como em tudo o resto, há desigualdades. Está tudo mal distribuído.
Dependendo do ponto de vista, isto pode ser uma causa ou uma consequência de todos os males e problemas que existem pelo mundo fora.
E era tão fácil resolver estes problemas. Bastava que a morte estivesse mais bem distribuída.
Não é preciso andar por aí a matar mais gente, bastava que houvesse uma melhor distribuição. Há tanta gente boa que morre. Se fosse possível salvá-los e se começassem a morrer mais dos outros...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Perguntas e respostas

Quando pensamos que sabemos as respostas todas, vem a vida e muda todas as perguntas.

(Luis Fernando Veríssimo)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Muros

Os muros não são todos iguais.
Uns servem para não deixar sair.
Outros para não deixar entrar.
Mas continuam a ser muros
Até serem derrubados.


Elevadores e companhia

Eu esta noite tive um pesadelo
Sonhei que era apenas um processo
Pousado num armário com desvelo
Mas preso com agrafos em excesso.

Eu hoje quase fiquei sem cabelo
Quando vi como era o novo acesso.
Ascensor? Pois agora já nem vê-lo.
O degrau está de novo de regresso.

Já não tenho mais vontade de subir
Degraus que não levam a nenhum lado.
A vontade que eu tenho é de fugir.

Só não vou por causa do ordenado,
E a reforma que ainda está pra vir.
Por isso vou suportar este fado.

Um dia, no princípio do longínquo ano de 2005, os colaboradores do banco X na avenida Y na cidade Z chegaram ao local de colaboração e encontraram o elevador avariado.

O banco X é um banco da nossa praça. Não refino o nome porque acho que nem a miserável publicidade neste miserável texto que quase ninguém lê eles merecem.

O local de colaboração está para os colaboradores como o local de trabalho está para os trabalhadores. É um local onde se passa uma grande parte dos dias úteis. Sim, porque há dias inúteis.
Conheço alguns que mesmo em dia inúteis iam até lá. Mas esses não eram colaboradores, eram colaboracionistas. E não andavam de elevador, andavam de Renault Megane ou Ford Mondeo, mas tinham a ilusão de que um dia iriam andar de Audi ou BMW.

Para que não pensem mal do banco X devo referir que sempre teve muita consideração pelos seus empreg... , quero dizer, colaboradores. Tomara que todas as empresas fossem assim. Este banco promoveu todos os seus funcionários. Todinhos, sem excepção. Foram todos promovidos de trabalhadores a colaboradores.
Está bem que não ganharam nada com essa promoção (muito pelo contrário), mas também o que é que isso interessa? É preciso não esquecer que estamos a falar de um meio em que se vive das aparências.

Bem, voltando ao elevador, a avaria estendeu-se por uma semana. Uma contrariedade apenas, no meio de tantas outras no dia a dia. Pressa em arranjá-lo para quê? Os camelos, ou melhor, os colaboradores estavam lá para subir (e já agora para descer também, caso não quisessem lá passar a noite).

Este episódio passou-se ao fim de longos 25 anos de trabalho, ou colaboração, já nem sei bem, em que o espectro das reformas antecipadas pairava no horizonte de muitos dos colaboradores. Para conseguir vir-me embora com a sanidade mental intacta, tinha que me fazer passar por maluco. Parece contradição. Mas não é.

As musas da insanidade ditaram-me o soneto que encima este texto. E eu aproveitei a oportunidade para mostrar mais uma vez o quão farto estava daqueles anos todos. Para isso imprimi-o numa folha com letra tamanho 14 para se ver bem e colei-o na parte lateral do meu monitor, substituindo uma outra folha que dizia: “Você disse urgente? AH AH AH”

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tempo

Por onde andaria
Se tivesse partido?
O que faria
Se tivesse ficado?
Neste meio termo
Em que vivi
Não fui
A nenhum lado
Não fiz
Nada
Apenas vi passar
Os ponteiros
Do relógio
Correndo desenfreados
Atrás das folhas
Do calendário

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quando

Quando
Acordo de manhã
E vejo o Sol
Entrar pela janela do meu quarto
Procuro ver o dia que começa
Procuro saber como sair dessa
Vida.

Quando
Acordo de manhã
E penso em ti
E vejo ao meu lado a cama vazia
Pergunto-me se é isto que eu quero
O que será que eu de ti espero
Ainda.

Quando
O Sol se põe
Ao longe sobre o mar
Depois de mais um dia ter brilhado
Eu fico a ver o dia acabar
Sentado, triste só
E abandonado.

E então eu penso
Em tudo o que passei
Sem ter passado.
E às vezes desço
Mais fundo do que o fundo
Imaginado.

Quero
Esquecer o dia
Em que te conheci
Partir de novo rumo ao horizonte
Deixar par trás os anos que perdi
E as tristezas todas que vivi
Contigo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A fuga da galinha

A quinta tinha o aspecto habitual de qualquer quinta: um local pacato, longe do reboliço próprio das cidades.
Puro engano, era apenas ilusão. As quintas têm vida própria, e embora não seja perceptível, em muitos aspectos os padrões de comportamento assemelham-se aos das cidades.

É comum falar-se, pela negativa, no ritmo de vida próprio das grandes cidades, das pressões a nível laboral, do tempo perdido em filas e transportes, do stress que isso tudo provoca, etc.
Em contrapartida, numa quinta, parece tudo calmo. No entanto um limoeiro que não dê limões em breve se vê transformado em estacas para uma qualquer vedação, ou um porco que não engorde por falta de apetite, depressa saberá, por experiência própria, o que é um leitão assado. Ai de quem não cumprir os objectivos.
Ou seja, numa quinta, tal como numa cidade, aplica-se o lema básico da sobrevivência: “comer e não ser comido”!

Havia, no entanto, um local da quinta onde havia alguma agitação, era no galinheiro. Havia visitas frequentes e até algumas discussões. A culpa era dos ovos, dizia-se.

Katy era uma galinha, já velha e de crista empinada. Há já algum tempo que os ovos não brotavam como antigamente, e daí as discussões, não só com o fazendeiro, mas também com os outros animais da quinta a quem Katy ia pagando com ovos os favores que recebia. No entanto, a galinha Katy sempre teve o engenho necessário para fazer com que todos “contassem com o ovo no cú da galinha”. Até um dia.

É que a galinha Katy conheceu o Galo de Barcelos, e a partir daí as coisas nunca mais foram as mesmas. O que já estava mal, piorou. Os poucos ovos que havia, em vez de irem para quem há muito aguardava por eles, iam para o Príncipe dos Pés de Barro. O descontentamento geral aumentou, sucederam-se as discussões, as ameaças.

Um dia o fazendeiro parou a carrinha ao lado do galinheiro e descarregou uns quantos tijolos e sacos de cimento. A galinha Katy, surpreendida, perguntou:
- “Para que é isto?”
- “Vou fazer aqui obras, o galinheiro já não me serve para nada, e tu vais conhecer por dentro um arroz de cabidela”, respondeu o fazendeiro.

A galinha Katy apercebeu-se então da realidade. Estava sózinha. Quer dizer, sózinha, sózinha não estava, tinha o Galo de Barcelos, mas este, além de sonhos não lhe tinha trazido nada de útil. Os restantes animais não iriam ajudá-la, estavam fartos de promessas e de mentiras. Se não fosse a panela do fazendeiro, seriam as mandíbulas do pastor alemão ou os cornos da vaca, alguma coisa haveria de acabar com ela. Só havia uma coisa a fazer: fugir dali.

Falou com o Galo de Barcelos. Tinham que sair dali rapidamente. Só havia uma coisa que podia atrapalhar a fuga, era o frango.
A galinha Katy tinha um frango, e teve que pensar muito no que seria melhor fazer. O frango poderia ser-lhe útil no futuro, e por isso decidiu levá-lo, mas por outro lado como a fuga teria de ser precipitada, a sua pouca idade poderia atrapalhar. Teve então uma ideia, iria falar com o Porco Espinho. Era dos poucos animais da quinta que não a incomodava muito, apesar de lhe estar a dever umas boas dúzias de ovos.

O Porco Espinho, apesar do nome, não era um ouriço, era mesmo um porco, um suino, igual àqueles com gripe, só que sem o respectivo vírus. Tinha este nome porque tinha um espinho atravessado na garganta, que não o deixava falar muito. Vivia numa pocilga num recanto afastado da quinta.

- Olá Porco Espinho, disse a galinha Katy, preciso de um favor teu.
- Claro, caso contrário não vinhas até aqui. O que é? respondeu o Porco Espinho.
- Olha, as coisas estão mal no galinheiro, não há milho, e o pouco que há é de má qualidade, não é o suficiente para eu conseguir por ovos, e o fazendeiro quer transformar-me em canja, vou ter que sair rapidamente, mas quero-te perguntar se podes ficar aqui com o frango, quando encontrar outra quinta e outro galinheiro venho buscá-lo, disse a galinha Katy.

O Porco Espinho já conhecia o frango. A galinha Katy pouco cuidava dele e muitas vezes era para ali para a pocilga que ele ia comer alguma coisa.
Embora não se considerasse a companhia mais apropriada, achava para si próprio que o frango estaria melhor consigo do que com a mãe.

- Olha, disse ele, tu conheces uma canção do Paulo DesenGonz(o)ado, aquela que tem um verso que diz assim “...sei-te de cor...”? Eu sei que tu não acreditas, mas eu sei-te mesmo de cor, melhor que ninguém, por isso não me venhas com essas histórias,...
A galinha Katy interrompeu-o e disse:
- Mas o que é que tu queres dizer com isso? Não queres ficar com o frango uns tempos? Achas que eu estou a brincar? Não vês a crise que vai no milho...
Agora foi a vez do Porco Espinho a interromper.
- O que eu quero dizer é que quem não te conhecer é que pode acreditar nas tuas histórias, não eu. O problema não é o milho, nem o galinheiro, nem o fazendeiro, és tu. Julgas que eu não sei os problemas que tens com a vaca, o perú, o carneiro, a égua, o gato, e por aí fora? Achas que eu não sei que já estiveste em outro galinheiro e tiveste que fugir pelas mesmas razões?
- Se o problema é com o fazendeiro, quer dizer que antes de saires vais resolver tudo com os restantes animais, vais?
- E em relação ao frango, não te preocupes porque eu acho que ele está melhor comigo do que contigo. Vou ficar com pena quando o vir partir, não por mim, mas por ele, porque sei que vai mudar para pior. E sobretudo porque sei que te vais aproveitar dele. Acho que vais fazer como os talibans,...

A galinha Katy estava a olhar para o Porco Espinho com os olhos muitos abertos com o espanto. O Porco Espinho achou que ela não estava a perceber e resolveu explicar:
- Sim, diz-se que os talibans usam as mulheres e as crianças como escudos humanos, e eu acho que com o frango tu vais fazer o mesmo, vais usá-lo como alibi para a tua história no próximo galinheiro que encontrares, vais fazer de coitadinha, usá-lo como desculpa para as tuas pedinchices, de coisas que não tencionas pagar.

Agora não eram apenas os olhos da galinha Katy que estavam abertos de espanto, era também o bico. Não estava habituada a que lhe falassem assim. Resolveu por um ponto final na conversa.

- Olha Porco, eu sei que tu gostas de ter aqui a companhia do frango. Queres ficar com ele ou não? Não te estou a obrigar, não tenho é que ouvir as tuas conversas.
- Além do mais tenho que ir preparar as minhas coisas para sair logo de manhã, quando o fazendeiro abrir o galinheiro. Assim tenho muito tempo, ele só vai dar pela minha falta à noitinha quando o for fechar.

O Porco Espinho, apesar do espinho que tinha atravessado na garganta falou mais do que lhe era habitual. E disse apenas uma pequeníssima parte de tudo o que acumulou ao longo dos anos e que o espinho nunca o deixou dizer. Porém reconheceu que esta era uma conversa que não levava a lado nenhum. Não tinha qualquer intenção de fazer a galinha Katy mudar de ideias, nem estava à espera que ela reconhecesse ou assumisse alguma coisa. Era um caso perdido à muito tempo. Portanto o melhor era acabar mesmo com a conversa.

- Sim, claro, podes mandar o frango, ele não tem culpa de ter uma mãe galinha. Enquanto está aqui, está melhor do que contigo. Olha, vai e não voltes.
- Ah, certo, obrigada, quando o vier trazer vou tentar trazer também um saco de milho...
- Se isso fosse verdade até chamava todos os animais da quinta para verem, era um caso raro!
- Lá estás tu com as tuas piadas de mau gosto, disse a galinha Katy, virando-lhe as costas e terminando com a conversa.

O Porco Espinho ficou a ver a galinha a afastar-se, e a pensar consigo próprio:
- Não acredito em nada do que ela disse. Quer dizer, ir embora deve ir, mas não pelas razões que disse. E voltar para levar o frango? Humm, não me parece. Bem, há coisas mais importantes em que pensar. Está na hora da ração.

O dia seguinte nasceu igual a todos os outros dias. Nenhum dos animais da quinta, à excepção do porco, tinha motivos para suspeitar que aquele dia iria ser diferente. De facto, ninguém se apercebeu de nada até ao fim da tarde, quando o fazendeiro começou a procurar a galinha e o frango. Os animais logo desconfiaram do que poderia ter acontecido, mas ninguém sabia dizer nada. O único que sabia estava calado. Para mais, o Galo de Barcelos também deixou de ser visto.

Passados os primeiros momentos de surpresa e agitação, os dias voltaram à sua rotina habitual. Com uma pequena diferença, a fonte maior dos problemas e discussões tinha desaparecido. Pelo menos até hoje.

domingo, 22 de agosto de 2010

I'm not dead, I'm not a poet, but yes, it is night

My deepest thoughts are dead
Buried along the way
A voice inside me said:
“Forget that damn old day”.
I’m lying in my bed
I have nothing more to say
People think that I am mad
But I do intend to stay.

I breathe and thus I live
But my thoughts died before me
They are all I have to give
To those that came to see.
I don’t want to deceive
Nobody, but I agree
The things that I receive
Worth more than it worth to be.

sábado, 21 de agosto de 2010

A barreira


Maldita barreira
No meu caminho
Tropecei nela
Caí de focinho

Ia tão bem
Era quase recorde
Bati com a cabeça
Já nada recordo

Um dedo partido
Joelhos lascados
E o orgulho ferido
Partido em bocados

Actualizado em 26-05-2017, com a inclusão da fotografia, que só agora encontrei. A imagem é antiga (de 1987) e de má qualidade mas dá para ver que vou num excelente 2º lugar.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Foge comigo Maria

Se fugires eu vou atrás
E peço boleia ao vento
Foge, eu sei que és capaz
E leva-me ao mesmo tempo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Maria

Maria é um ser imaginário que habita numa remota e longínqua masmorra encravada nos alicerces do castelo perdido no fundo da floresta negra.
Porque há florestas de outras cores.
Mas esta é negra.

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Sabes Maria, vejo-te despida
De roupa por fora, sonhos por dentro
Olho-te e vejo, pareces perdida
Não sabes que és da vida o centro.

Sabes Maria, eu vejo-te nua
Olhando em volta à procura de abrigo
Perdeste a noção da vida que é tua
Procuras em vão a mão de um amigo.

Sabes Maria, sinto que desistes
Deixaste a vida passar por ti
Olho e reparo em teus olhos tristes
E nessa boca que nunca sorri.

Sabes Maria, eu toco teu rosto
Agarras-me a mão, não posso sair
Ajudo a quebrar o grilhão imposto
Ergo-te do chão, vejo-te partir.

Olha Maria, levanta-te e sai
Desta gaiola de grades douradas
Olha em frente, caminha, vai
Deixa p'ra trás as almas enganadas.

Isso Maria, és livre agora
Junta tuas coisas, parte depressa
Não olhes p'ra trás, vai daqui embora
Tenta ser feliz, que nada te impeça.