Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Trabalhos em madeira - Amplificador de telefone




Uma caixa de madeira com uma abertura para colocar o aparelho.
É tudo.
É simples.





domingo, 26 de fevereiro de 2017

A porta de entrada


A porta de entrada para um mundo onde ubers e tuc-tucs são mais importantes do que pessoas.

Uma vista clássica


A cidade para o cidadão
Sem o raio da multidão
Com o telemóvel na mão.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Mais um trilho de pegadas


Um novo trilho de pegadas foi descoberto. Ao contrário dos demais, este trilho não contém pegadas de dinossauros, mas de pássaros, que se apressaram a atacar o novo rego da minha horta, desta vez de ervilhas.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

1, 2, 3, experiência


Já não tenho espaço na cozinha para tantos copos de iogurte, Tenho de começar a plantar as plantas. O problema é que elas ainda são muito pequenas.


Para as poder colocar na horta preciso arranjar uma rede de protecção. Fácil de fazer e com pouco material.




Mas tem um inconveniente. Esta rede, a única que tinha, é demasiado larga e não protege dos pássaros, principalmente dos pardais que aparecem em maior quantidade.



A solução é transformar o que seria apenas uma rede de protecção numa estufa, cobrindo-a com plástico.

Vamos ver se resulta, tudo isto é uma experiência. O que está plantado são quatro pés de alface e uma couve-flor. Espero que cresçam e depressa porque de onde vieram estes copos de iogurte ainda há mais cerca de vinte.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A limpeza


Povo que lavas o rio,
Que gastas com a tua mangueira
As águas da minha torneira.
Pode haver quem te entenda,
Quem te incentive até
Mas a minha vida não.


domingo, 19 de fevereiro de 2017

No trilho das cenouras


E quando eu pensava que os pássaros tinham comido tudo, eis que aparecem as pequenas folhas das cenouras ao cimo da terra.
Demoraram algum tempo a aparecer e eu já pensava que a sementeira não ia dar nada.
É que os pássaros parece que têm radar.
Tenho uma janela virada para a horta, embora não a veja directamente, e junto da qual tenho uma secretária. É ali que passo uma parte do dia, a tratar dos pacotes de açúcar ou a tocar guitarra. Pode parecer estranho tocar guitarra à secretária mas eu não tenho estante, por isso coloco as partituras em cima da secretária.
E a partir do dia em que semeei as cenouras a quantidade de pássaros que por ali aparecem cresceu enormemente, principalmente pardais. Era normal ver grupos de dois ou três, e a partir desse dia cheguei a contar bandos com nove e dez pardais.
Apesar de se notar que a terra estava remexida, afinal as cenouras parece que estão no bom caminho.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Alice no jardim da Celeste


- Coelho, que fazes aqui?
- Estou à procura da saída.
- Então porque é que entraste?
- É a mesma coisa, quando se sai de um lugar, entra-se noutro. E tu, porque estás aqui?
- Estou à procura da chave.
- Qual chave?
- Oh, é uma história muito longa....
- Sim, sim, sim, já sei, mas agora não tenho tempo para a ouvir.
- Pois, estás atrasado como de costume.
- Atrasado? Eu não estou atrasado, quem está atrasada é ela.
- Ela? Ela quem?
. Nada, nada, nada, o que queria dizer é que aqui não há chaves, é melhor procurares noutro lado.
- Qual lado?
- Sei lá, onde houver fechaduras talvez existam chaves, é como o fumo e o fogo. Aqui não há nem uma coisa nem outra.
- Ohh, eu queria tanto entrar.
- Então sai, já te disse que é a mesma coisa. E depressa que ela está chegar.
Vindo de muito longe começou a ouvir-se uma voz a cantarolar "...Giroflé, giroflá..."

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Uma princesa à janela


- Vou-me atirar da janela.
- Porquê meu amor?
- O meu pai não me deixa casar contigo.
- Não faças isso, meu amor. Oh, maldito velho retrógrado.
   Ou melhor, salta sim, mas quando eu estiver lá em baixo.
   Saltas para os meus braços e depois fugimos os dois.
- Excelente ideia, meu amado, vamos então combinar o local e as horas.
(Bzzz bzzzz bzzz bzzzz)

O problema foi da selfie. Dom Abécula atrasou-se uns instantes a tirar uma selfie com o palácio em fundo, e quando chegou ao local combinado já a princesa se tinha estatelado cá em baixo.
Era pontualmente loura.


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Retalhos da periferia


"...O triste retrato da morte
Estampa o Jornal O Dia
Ao lado do riso da sorte
De quem ganhou na Loteria..."
Alcione, Retalhos

As casas perderam a cor e a vida definhou. Ou será ao contrário?


A ordem  não interessa, O que interessa mesmo é que as casa perderam a cor e a vida definhou.

A ordem não interessa, porque um dia virá a desordem.
As casas, cinzentas como a tinta dos decretos que as condenaram a desaparecer, permanecem como guardiãs de um tempo que teima em manter-se na memória das gentes.

Lá longe, sob as luzes de neon, correm outras vidas de outros tempos. Tão efémeras e tão dependentes das luzes de neon, e do rádio que lhes diga o que ouvir, o que gostar, o que pensar, de que se rir.
A ponte é uma passagem para outro estado de inconsciência colectiva.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Na hora do chá


As duas últimas aquisições para a minha horta.
Depois de muito procurar pela internet, julguei que ia ser mais difícil do que na realidade foi.
Ao pesquisar por cidreira ou lúcia-lima, invariávelmente me apareciam lojas de venda de chás.
Se à pesquisa adicionasse as palavras "plantar" ou "semear" apareciam montes de páginas ou blogues com dicas para semear ou plantar, mas continuava a faltar o principal, a informação sobre onde comprar a porcaria das sementes ou plantas.

A cooperativa agrícola não tem, vários hortos que contactei não têm, os expositores com sementes em vários supermercados da zona não têm.
Em conversa, a menina da loja de frutas e legumes disse-me para procurar no Leroy. Já lá tinha estado e não vi nada, mas seguindo o simpático conselho, fui lá novamente com tempo livre, para pegar nos pacotes todos do corredor inteiro e aproximá-los dos olhos que as letras são minúsculas demais para mim. E ao fim de muito tempo lá apareceu um pacotinho de cidreira.
Fui logo para casa e no próprio dia pus algumas sementes a germinar.

Mas quanto à lúcia-lima, nada. Diz a internet que é originária da América do Sul, que não se dá bem com o frio, blá, blá, blá. Se calhar não há mesmo à venda em sementes.

Até que...
Um dia a Judite, com quem já tinha falado anteriormente,  levou-me um copinho de plástico com uma muda de cidreira (é o copinho da direita). A Judite é a senhora que limpa a casa da minha tia.
Depois, palavra puxa palavra e digo eu que ao andar a pé pelas ruas passei num determinado sítio e me pareceu que num quintal havia um arbusto de lúcia-lima mas não tinha a certeza. É sim, confirmou logo a Judite, que conhece bem a zona.
E como é que vou arranjar uma haste para plantar? Durante vários dias passei por ali a pé na esperança de ver alguém na casa. Os donos são velhotes e claro que com este tempo frio não andam no quintal.

Hoje foi dia de aula de guitarra. Desde há uns meses que vou para Lisboa de comboio porque não há dinheiro para gasolinas.
Às oito horas a que chego já é noite cerrada. No caminho da estação para casa, fiz um desvio e passei pelo tal sítio. Vou junto ao muro, paro, debruço-me para o outro lado com risco da própria vida, estico-me todo e colho um ramo, que não terá mais que meio palmo de tamanho, mas foi o que consegui. É o que está no copinho da esquerda na imagem.

Agora, enquanto aguardo que as plantas cresçam para poder fazer chá, vou bebendo vinho.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Foz de um rio mau


Havia ali um barco
Era só um sonho
À vela se movia
Era apenas um sonho
Tu e eu no convés
Era mais que um sonho
Rumando ao horizonte
Era mais do que um sonho.

Porém naquela rocha
Algo acabou com o sonho
Lá havia um sereio
Há sereios neste sonho
A cantar te enfeitiçou
Isto é pior que um sonho
Com uma onda te levou
E contigo foi-se o sonho.


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Calmaria


- Calma Maria, não te aprochegues muito que lá vem uma onda das grandes
- Calma Manel, é só pra tirar uma selfie, tu nem pra carregar no botão serves.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Horta - cenouras


Parece o rasto de uma toupeira mas não é. É um montinho feito com terra nova, onde foram semeadas cenouras. No futuro vão fazer companhia às couves.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Trabalhos em madeira - Enrolador de cordas de guitarra




Lá se foi a minha credibilidade toda.
Fiz dois enroladores para os meus companheiros de guitarra.
Experimentamos o primeiro, e não dá: é muito comprido, bate nos outros carrilhões do lado.
Tento demonstrar na minha própria guitarra e não dá: é muito estreito, o carrilhão não entra.
Bolas.
Aqui fica a prova de que a coisa funciona, Quando tirei as medidas a guitarra que tinha mais à mão era esta, não a que costumo levar para as aulas.
Esqueci-me, e esse foi o meu grande erro, de que os carrilhões não são universais, têm medidas diferentes.
Pronto, enrolar as cordas já consigo. Agora só me falta aprender a tocar.

Actualização: Espero que ninguém note que esta corda está enrolada em sentido contrário às restantes.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Um fio de água


Rasgam-se as nuvens que sobrevoam a paisagem, ao sabor dos ventos sem destino.
Desfaz-se em mil pedaços o seu conteúdo, e esvaindo-se pelas feridas recém abertas no cetim cinzento, derrama-se lá do alto o liquido elemento.
Indiferente à fúria dos elementos, às mudanças no clima, à conjuntura actual, ao aumento do preço da água, ao retrocesso civilizacional, a horta agradece.