Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Talvez um dia



Talvez um dia
Contra ventos e marés
A terra acorde já seca
Sem a água do seu rio.

Talvez um dia
Quando os peixes protestarem
Deixe de haver pescadores
Deixe até de haver rio.

Talvez um dia
Quando os barcos atracarem
As cordas e as correntes
Os prendam ao próprio rio.

Talvez um dia
Para lá da Lua Cheia
Não haja ondas nem espuma
Só o leito seco do rio.

Talvez um dia
As colunas deste cais
Se ergam, tristes, do fundo
Onde antes era um rio.

Talvez um dia
Até as próprias gaivotas
Se recusem a pescar
Nas águas secas do rio.

Talvez um dia
Deixe até de haver memória
E ninguém saiba ou recorde
Que aqui havia um rio.

2016