Era uma simples caminhada ao longo da
costa. Parava, ficava ali uns minutos especado a ver o Sol descer lentamente
sobre o horizonte, caminhava mais um pouco, parava de novo, voltava a caminhar,
e assim sucessivamente ao longo de algumas centenas de metros.
Quando parava podia observar a paisagem
toda em redor, porém ao caminhar tinha que olhar apenas para o chão. Estava
farto de tornozelos torcidos e roturas de ligamentos. É que o caminho não era
nada fácil: terra batida, pedras, buracos, regos da água da chuva, ervas, mais
pedras, mais buracos…
Foi depois de caminhar mais uns metros que
parei, levantei os olhos, e quando esperava voltar a ver à minha frente apenas
mar, linha do horizonte e o Sol quase a pôr-se, que a vi.
Não, não vi nada, apenas pensei que a vi,
tal a semelhança do aspecto da paisagem. Entre mim e a linha do horizonte um
arbusto feito de ramos sem folhas, atrás do qual ninguém se podia esconder, mas
onde ela fingia que se escondia de mim.
Lembras-te, estupor?
Agora não estava ali ninguém, era apenas a
minha memória a pregar-me partidas.