Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A memória tem destas coisas


Era uma simples caminhada ao longo da costa. Parava, ficava ali uns minutos especado a ver o Sol descer lentamente sobre o horizonte, caminhava mais um pouco, parava de novo, voltava a caminhar, e assim sucessivamente ao longo de algumas centenas de metros.
Quando parava podia observar a paisagem toda em redor, porém ao caminhar tinha que olhar apenas para o chão. Estava farto de tornozelos torcidos e roturas de ligamentos. É que o caminho não era nada fácil: terra batida, pedras, buracos, regos da água da chuva, ervas, mais pedras, mais buracos…
Foi depois de caminhar mais uns metros que parei, levantei os olhos, e quando esperava voltar a ver à minha frente apenas mar, linha do horizonte e o Sol quase a pôr-se, que a vi.
Não, não vi nada, apenas pensei que a vi, tal a semelhança do aspecto da paisagem. Entre mim e a linha do horizonte um arbusto feito de ramos sem folhas, atrás do qual ninguém se podia esconder, mas onde ela fingia que se escondia de mim.
Lembras-te, estupor?
Agora não estava ali ninguém, era apenas a minha memória a pregar-me partidas.