O local ficava nos confins de um vale
perdido entre montanhas distantes. Só a água se fazia ouvir ali. Os pássaros,
que os havia por ali às centenas, esvoaçavam de árvore em árvore, mas os seus
trinados eram abafados pela queda da água proveniente das chuvadas do fim do
inverno.
Aproximou-se o mais que pode da cascata e
procurou um sítio para se sentar. Havia por ali vários troncos de árvores
tombadas e escolheu uma. Tirou a mochila das costas e pousou-a nos joelhos que
o chão estava molhado dos salpicos da água.
Sem pressa abriu-a e tirou o farnel, e com
toda a calma do mundo ali ficou a mastigar enquanto as sandes duraram.
Ficou contente consigo próprio por ter
escolhido bem o sítio. Estava-se bem ali. O telemóvel que normalmente só tocava
quando alguém precisava de si, ali não tinha possibilidade de o incomodar
porque nem rede havia.
Acabada a comida passou à bebida, e
novamente sem pressa ali ficou até que as sombras da tarde lhe indicaram que
era tempo de deixar a civilizada natureza e iniciar o caminho de regresso à
selva da vida quotidiana.