Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Solitário


Como é que fora ali parar? Não sabia. Olhava em volta e via-se sozinho no alto de um monte, apenas com a companhia de pedras, muitas pedras.
A memória já o atraiçoava muitas vezes, buscava lembranças dos antigos companheiros e não encontrava nenhumas, ou porque tivessem já todos perecido há muito tempo ou porque nunca tivessem existido.
Talvez fosse um produto do vento, essa companhia inseparável, quer de verão quer de inverno. Talvez tivesse sido uma semente perdida que as garras da ventania tivessem trazido e depositado precisamente ali onde se encontrava.
Ou, quem sabe, fosse o sobrevivente derradeiro do fogo que anos atrás consumiu quilómetros e quilómetros em redor.
Fosse qual fosse a sua origem, agora era tarde para mudar. Nada mais restava do que aguardar a passagem dos dias, das estações, dos anos, até ao momento em que largaria no chão a sua última pinha.