Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

domingo, 15 de maio de 2016

A espreitadela


Levantou-se tarde, como quase sempre acontecia. Não gostava muito de acordar cedo. Conhecia de cor aqueles adágios populares do “cedo erger”, “dá saúde”, “quem madruga, não sei o què” e blá blá blá.
Achava que não passavam de patranhas para encher as mentes de pacóvios, daqueles que aceitam as coisas apenas porque alguém lhas diz, sem se darem ao trabalho de pensar se são verdade ou mentira.
Cedo ou tarde, o seu dia tinha as mesmas horas e realizava as mesmas tarefas tal como qualquer outro, daí que não se preocupasse muito com falatórios.
Eram vinte horas mais um minuto quando se levantou hoje. Um dia, ou uma noite, como tantas outras, nada de novo, era algo há muito tempo previsto no grande livro dos dias e das noites, a sua rotina de vida a isso obrigava.
Assim que as nuvens permitiram, espreitou cá para baixo. Era uma das suas tarefas, verificar o estado das coisas, embora muitas vezes por condições atmosféricas adversas isso não fosse possível.
O que os aparelhos lhe indicavam é que nesse dia, tal como em qualquer dia que fosse, estavam sempre um pouco à frente do que estavam no dia anterior. A essência da existência a isso obrigava, porque não há nada estático no Universo e a vida é uma espiral continua que marca o ritmo da evolução.
Esta lei, como qualquer lei, tem excepções, e há de facto coisas estáticas no Universo. São algumas das mentes humanas.
Hoje, ao espreitar, ouviu um grande ruido. Não teve ilusões, conhecendo a cobardia e o comodismo humanos como conhecia, sabia que não estava ninguém a lutar pelos seus direitos. Ainda assim teve curiosidade em saber o que era e debruçou-se um pouco mais sobre a nuvem que lhe tapava parte da visão.

Não era nada de importante, era apenas por causa de um jogo de futebol.