São horas de o relógio já estar pronto e
por minha causa ainda não está. Problemas vários atrasaram a construção. A
começar pelos problemas propriamente ditos que me foram colocados, e que
tiveram de merecer uma solução adequada.
A fresa (tupia) é uma ferramenta nova para
mim de modo que tive de fazer e aprender ao mesmo tempo, para não atrasar ainda
mais o processo.
Mas os problemas não se ficaram por aqui.
Cortes para serem direitos têm de ser feitos com uma guia.
Guia? Qual guia? E como é que guia? Ok,
substitui-se o sono pelo pensamento e logo se inventa qualquer coisa. A noite
também se fez para isso. Há quem pense mais e melhor a dormir do que muita
gente acordada.
Manhã cedo, ainda os empregados estavam a
bocejar e a tirar a ramela dos olhos e um cliente chato já estava à porta da
loja, pronto para sair passados poucos minutos com um molho de ripas debaixo do
braço.
O Sol quando nasce não é para todos e os
dezoito milímetros de espessura marcados nas tábuas também não. Aquilo é assim
a modos que aproximado. Com as ripas todas montei o dispositivo, fiz dois
cortes de experiência numa tábua velha, mas depois quando começou a ser a sério
surgiram mais problemas.
Primeiro tive de ajustar (desbastar) a
altura das guias inferiores porque a fresa ao deslizar batia no final.
Depois ao tentar enfiar uma peça por baixo
das guias superiores, que são finas, não reparei que não cabia porque tinha
ligeiramente mais que os dezoito milímetros e parti uma delas. Como resultado
tive de a substituir.
Quando tudo parecia pronto, o quadrado que
eu ia trabalhar na realidade, a verdadeira origem de toda esta trabalheira, não
era quadrado. Um dos lados tinha mais um ou dois milímetros do que o outro.
Não olhem assim para mim porque a culpa não
foi minha. A peça em questão foi cortada na loja aquando da compra da madeira.
A orientação da madeira tinha de ser em
função dos veios, e por isso o que tinha de entrar no canal do dispositivo era
o tal lado de dois milímetros a mais, o que obrigou a nova desmontagem para
ajustar o tamanho.
Várias horas depois a coisa ficou pronta.
Restou a auto-satisfação de ter ficado conforme tinha previsto.
Para finalizar faltava só fazer na parte de
trás da madeira um entalhe para o mecanismo de relógio.
Perfeito. Quando tiver mais algum tempo de aprendizagem posso fazê-lo com a fresa, em vez de fazer à mão.
O filme que segue em anexo tem bolinha
vermelha no canto. É proibido mandar piropos às gajas mas a mim ninguém me proíbe
de mandar piropos às minhas próprias madeiras. Sobretudo àquelas que não se
comportam como eu quero.
É um bocado grande o filme. As partes mais
interessantes começam no minuto 23’20” e 35’25”.