Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 13 de junho de 2017

A casa de partida

Peguei no copo que continha os dados e virei-o sobre a mesa. Quando o levantei vi que marcavam cinco horas e vinte minutos. Hora de levantar. Saí da cama e passei à casa seguinte, a casa de banho. Depois a outra, a cozinha, onde o pequeno almoço depressa ficou pronto com a ajuda do micro-ondas. Peguei na mochila que já estava pronta de véspera, com algumas sandes, um sumo, duas águas, a chave, a licença e o chapéu.
O passo seguinte era o carro, em direcção à cidade. Era um jogo sem glória mas estava a correr bem. O trânsito era pouco e a claridade era já suficiente para que a viagem se fizesse sem sobressaltos. Um olho na estrada e o outro a fazer planos para aplicar o prémio da vitória. Uma parte estava já destinada, para no próximo fim de semana poder percorrer finalmente o Aqueduto das Águas Livres.
Parei o carro à entrada da recta final. Era uma recta longa e cheia de curvas e ruas estreitas e a subir, que não deixava ainda ver a meta. Mudei do carro para a carrinha, que surpreendentemente estava ali no estacionamento. Não era costume estar ali de manhã, mas entusiasmado que estava com um jogo aparentemente tão fácil nem achei estranho. Para mais, com este transporte poupava quinze minutos a pé até ao fim.
Chegada triunfal com paragem mesmo em cima da linha da meta. Chegar (bem) cedo à selva tem destas coisas, consegue-se parar mesmo à porta. Se me atrasasse sabe-se lá onde teria de parar a carrinha, tendo depois de alombar com o conteúdo às costas.
A casa final estava a ficar composta, com o material ali empilhado, até que… olho para o que falta tirar da carrinha e reparo que falta muito material.
Volto a pegar nos dados, Desta vez saiu-me um número de telefone.
Sim, é muito cedo, eu sei, desculpa, desculpo-me eu, mas é que estou a descarregar a carrinha e falta aqui muito material.
A voz do outro lado não me deixou terminar. Ah, diz a voz, mas é que hoje não era dia de jogar, foi só naqueles dois dias. Agora tens de voltar à casa de partida. E de mãos vazias.