Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

A rua escura


Fez-se escuro antes de estar escuro. Fez-se silêncio antes de as vozes se calarem. As portas, fechadas, indicavam que cada pequenino mundo se encontrava fechado em si próprio. A cultura da igualdade apesar de todas as diferenças.
E era isto. Apenas isto. Levantar, trabalhar, dormir, para novamente levantar, trabalhar e dormir.
Quanto mais a existência se aproximava dos padrões estabelecidos, mais os peitos se inchavam de orgulho, repetindo interiormente pensamentos que não se atreviam a divulgar.
"- Vês, eu sou mais normal que tu. trabalho mais para parecer melhor que tu, rebaixo-me mais para receber mais que tu, sou mais cumpridor das regras para parecer mais importante que tu, vejo os programas que toda a gente vê, mas em HD, vou de férias quando toda a gente vai mas para mais longe, fico preso nas filas de trânsito como toda a gente mas num carro maior, rio quando toda a gente ri, choro quando toda a gente chora, celebro quando toda a gente celebra, vou às inaugurações onde toda a gente vai, encho os centros comerciais que toda a gente enche, compro os detergentes anunciados na TV que toda a gente compra, vou à praia quando toda a gente vai, compro música em saldo na fnac como toda a gente compra, compro livros no supermercado como toda a gente compra.
Infelizmente morro como toda a gente morre, mas quando isso acontecer vou para o mausoléu da família."