Não posso dizer que não gosto de bruxas. Há uma de que
gosto, muito. Mas ela não sabe, nunca lhe disse.
Eu sei que se ela alguma vez olhar para mim com outros
olhos que não sejam os de ver, será para me usar como ingrediente no seu
caldeirão de poções borbulhantes e fumegantes.
Coitada, ela até nem é má rapariga, mas tem o defeito
de acertar quando fala de mim. E há uma que me está atravessada, há muitos
anos. Agora voltou a falar, e sei que vai acertar. Mas agora já nada me
interessa, não me preocupo se falhar, a menos que as coisas não sejam como (me)
parecem ser.
Eu gosto da bruxinha porque ela é como eu, também
acerto muitas vezes, infelizmente é sempre no lado errado da noite.
Sempre que vejo a Lua, e vejo-a muitas vezes, sempre
que posso, imagino-a a passar sentada na sua vassoura voadora.