Convento de Cristo - Tomar, 13 Julho 2008
O
corredor era comprido e tinha ao fundo uma porta, sempre fechada.
Nunca
abras aquela porta, senão...
O
próprio corredor não era sitio que se pudesse frequentar muitas
vezes em carne e osso, era apenas palco da imaginação de quem
procurava um espaço amplo para desenvolver as actividades próprias
da sua idade.
As
referencias à porta sempre fechada eram invariavelmente acompanhadas
de reticências. E que reticencias.
Já
conhecia todos os tons em que as reticencias podiam ser
interpretadas. Havia as maiores, as menores, com sustenido, com
bemol...
Não
faças isso, senão...
Não
digas isso, senão...
Come
tudo, senão...
Não
vás para ali, senão...
Vai
estudar, senão...
Não
vistas isso, senão...
Mas em
relação à famosa porta, eram sempre produzidas em tom de sétima
aumentada. E em registo fortíssimo.
A
seguir às reticencias vinha sempre, se fosse caso disso, o ponto de
exclamação.
As
reticencias podiam ser contornadas, mas ao ponto de exclamação não
se conseguia escapar.
E por
isso a porta manteve-se estanque aos olhares indiscretos até hoje.
Porque mesmo com reticencias, se aparecesse o ponto de exclamação
seria o último. Estava decidido.
A
porta, aquela porta, aquela porta que estava sempre fechada, foi
aberta. Apenas para se ficar a saber que não conduzia a lado nenhum.
Que
diferença é que isso faz agora?