Os olhos semicerrados devido à claridade intensa estavam fixos no vazio. O infinito, se é que existe, devia ter mais conteúdo do que aquilo que tinha à sua frente: água e mais água, sempre vazia, sempre em movimento, e um espaço a que chamam céu, imenso, vazio, apenas preenchido com a com a azul.
Não é que
esperasse encontrar ali alguma coisa. Ao fim deste tempo todo já não
esperava encontrar nada. E no entanto...
Tinham-lhe contado
tantas histórias sobre o infinito. E também sobre a eternidade. A
eternidade está para o tempo como o infinito está para o espaço.
Mas seria mesmo assim?
Quem lhe contou
estas histórias contou-lhe muitas outras que se revelaram mentira,
porque é que estas haveriam de ser verdadeiras?
Quem lhe contava
histórias de igualdade sentia-se superior às demais criaturas.
Quem lhe contava
histórias de amor odiava tudo o que fosse contrário aos seus
princípios.
Quem lhe contava
histórias de paz fazia a guerra a quem quisesse ser livre e
independente.
Quem lhe contava
histórias sobre o valor do conhecimento falava-lhe de pregos para
ocultar a sua ignorância sobre parafusos.
Sim, tudo o que lhe
contaram era mentira.
A eternidade de
facto não existe, o fim já não andará muito longe.
Tirou o chapéu e
com as costas da mão limpou da testa os pingos de suor devido ao
calor.
Estava na hora de
regressar, já ali estava à bastante tempo. Com algum custo
curvou-se e apanhou a bengala caída na areia. Apoiando as mãos na
pedra onde se sentara fez força para ajudar o corpo a erguer-se.
Deitou um último
olhar ao vazio que tinha diante de si, e murmurando entre dentes
“Infinito? Bah...” deu meia volta e afastou-se coxeando.