A
cidade
A
cidade é um mar de gente.
As
marés humanas, cíclicas, movem-se
Ao
sabor dos interesses da propaganda.
“Todos
à praça, vamos festejar”
Vamos
deixar o chão com mais lixo
Do
que grãos de areia tem a praia.
Alguém
limpará no dia seguinte.
Os
interesses privados devem justificar
A
razão de serem contratados.
A
cidade é um mar, todo cultivado.
Cultivam-se
notas, moedas, cifrões.
Estes
agricultores vestem fato e gravata,
Não
sabem da poda, só sabem da foda.
Têm
vastos terrenos, são os donos da quinta,
Têm
grandes navios que cruzam oceanos,
Compram
e vendem, em negócios sem fim,
Arrecadam o lucro do trabalho dos outros,
Dos
que vivem nas rochas, dos que são mexilhões.
Na
cidade há canais
Onde correm rios de gente,
Levados
na enxurrada
Da azáfama diária,
São um rebanho ordeiro
Que regressa
ao fim do dia
Ao ponto de partida.
A
cidade é um cais de partida,
Rumo à desumanidade.