Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A praia das nuvens escuras

Perdido
Num céu pintado do mais escuro preto
Onde as nuvens estão penduradas
Para serem vistas por olhos de poeta

Esta versão de Fernão Capelo Gaivota é de muito má qualidade. Talvez nem seja mesmo uma versão, apenas uma tentativa. A começar pelo facto de não ter nenhuma gaivota. As gaivotas não voam de noite (dizem).
Ah, já me esquecia de acrescentar, há gente muito mentirosa.
O céu estava de facto pintado dum preto tão preto que nem se via.
As nuvens também não se viam, fosse pela cor, fosse porque a ausência de qualquer luz as impedia de serem vistas. Mas que estavam lá, disso não havia dúvidas. A chuva que caía era a prova.
Restavam os olhos do poeta. Mas que poderiam eles ver se não havia nada para ver? É que além disso nem sequer cumpriram a missão primordial que os levou até ali?
Os olhos tinham ido até ali para chorar. Apetecia-lhes chorar, chorar muito. Então, chegaram, sentaram-se e esperaram, esperaram, esperaram muito, mas… nem uma lágrima.
Havia um motivo para terem ido até ali. O que aconteceu depois não se sabe.
Chegaram à conclusão que não valia a pena? Descobriram que afinal o motivo deixara de existir? Ou simplesmente renderam-se?

Porque quem espera sempre alcança, nem que seja o cansaço da espera, os olhos cansados do poeta cansado cansaram-se de esperar e regressaram cansados a casa.