Perdido
Num céu pintado do mais escuro preto
Onde as nuvens estão penduradas
Para serem vistas por olhos de poeta
Esta versão de Fernão Capelo Gaivota é de
muito má qualidade. Talvez nem seja mesmo uma versão, apenas uma tentativa. A
começar pelo facto de não ter nenhuma gaivota. As gaivotas não voam de noite
(dizem).
Ah, já me esquecia de acrescentar, há gente
muito mentirosa.
O céu estava de facto pintado dum preto tão
preto que nem se via.
As nuvens também não se viam, fosse pela
cor, fosse porque a ausência de qualquer luz as impedia de serem vistas. Mas
que estavam lá, disso não havia dúvidas. A chuva que caía era a prova.
Restavam os olhos do poeta. Mas que
poderiam eles ver se não havia nada para ver? É que além disso nem sequer
cumpriram a missão primordial que os levou até ali?
Os olhos tinham ido até ali para chorar.
Apetecia-lhes chorar, chorar muito. Então, chegaram, sentaram-se e esperaram, esperaram,
esperaram muito, mas… nem uma lágrima.
Havia um motivo para terem ido até ali. O
que aconteceu depois não se sabe.
Chegaram à conclusão que não valia a pena?
Descobriram que afinal o motivo deixara de existir? Ou simplesmente
renderam-se?
Porque quem espera sempre alcança, nem que
seja o cansaço da espera, os olhos cansados do poeta cansado cansaram-se de
esperar e regressaram cansados a casa.