- Vede irmão, já se avista o palácio, daqui
a nada poderemos descansar os nossos pés cansados.
- É aqui que nos separamos, vou ficar aqui
atrás destas moitas.
- Aqui irmão? Acaso não quereis retemperar
as forças gastas na jornada? Não quereis sacudir o pó do gibão, molhar a
garganta seca com o vinho das terras de Colares, estender a corpo num leito de
penas de ganso e deixar que o sono vos invada o espírito?
- Sim, quero isso e muito mais, mas… olhai,
há fumo branco na chaminé.
- Por todos os santos do altar, imaginai
quantos petiscos não terá cozinhado. Fumo branco numa chaminé é sempre uma boa
nova.
- Não neste caso, irmão. Este fumo branco
significa apenas que Dona Genoveva, minha mui amada amante, se encontra ainda
entregue às suas lides de cozinheira real. Protegido por estas moitas e
agasalhado pelo hábito que envergo, esperarei que todo o fumo se desvaneça,
para depois, através das cavalariças entrar pela porta das traseiras.
- Pois se ides fornicar, que São Tiago vos
acompanhe, irmão.
- Até amanhã, irmão, ide na paz do Senhor.