“Olhá queijadinha de Sintra!”
O pregão soou-lhe aos ouvidos
instintivamente, mal viu o prato com as queijadas pousar na mesa.
As queijadas de Sintra eram as companheiras
das tardes de futebol, no tempo em que ia ao futebol.
Sim, que a vida dá muitas voltas, mais até
que o próprio esférico, centro das atenções desportivas. Ou melhor dizendo,
alienativas.
E, por várias razões difíceis de explicar,
e mais difíceis ainda de entender, tinha deixado de ir ao futebol. Uma das
principais, senão mesmo a principal, tinha a ver com a consciencialização de
que o desporto em geral e o futebol em particular se tinha tornado num instrumento
de alienação colectiva, de controlo de massas.
Mas a verdade é que de vez em quando sentia
saudades de alguns momentos passados. Como por exemplo agora, à vista do prato
de queijadas.
De olhos semicerrados, de olhar perdido na
neblina que descia da serra e que enchia a vidraça da janela que tinha defronte
dos olhos, indiferente aos sons e à agitação em redor, recordava alguns desses
momentos.
Uma voz mais alta que as demais gritou
perto dos seus ouvidos “a conta, faxavor” o que o fez despertar e regressar da
nostalgia à realidade.
Então compreendeu porque é que as bolas
paradas se movem, e às vezes até entram na baliza. Verificou com os próprios
olhos que as queijadas, paradas no prato, também se moveram, todas sem
excepção. O café, esse, jazia frio e inerte na chávena à sua frente.
Que bom é estar rodeado de amigos.