Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

O lago


Havia uma lenda muito antiga que falava de um lago. Tão antiga que ninguém sabia a origem ou quantos anos tinha.
No fundo é o que acontece com todas as lendas. Sabe-se que existem mas ninguém sabe mais nada acerca delas.
É uma forma bastante prática de espalhar histórias que, se fossem contadas a sério, seriam tomadas como mentiras. Assim, sendo lendas, já podem ser levadas a sério.
Não falando, é claro, da vantagem que é o desconhecimento da sua origem, um eufemismo para a cobardia do anonimato.
Voltando à lenda do lago, dizia-se que, quem entrasse nele sairia de lá molhado. Isto era contado de geração em geração, quando todos se sentavam à volta da fogueira em noites quentes de lua cheia, e com um tom de voz tão aterrador que ninguém se atrevia a aproximar-se, temendo apanhar até um simples salpico.
Porém um dia, alguém resolveu debruçar-se sobre o assunto. E chegou à conclusão que era absurdo. Resolveu então dirigir-se à multidão para contar a sua descoberta.
Mal começou a falar foi imediatamente linchado e atirado ao lago. Nem teve tempo de explicar que era absurdo de tão natural que era o facto de alguém se molhar ao entrar em contacto com a água. Que era uma forma de impedir, pelo medo, que as pessoas usassem e gastassem e usufruissem da água e do lago.
Sem querer transformou-se ele próprio numa lenda. Uma lenda morta. A de que quem se molhar na água do lago, morre afogado.
Esta, e muitas outras lendas, persistem até aos dias de hoje.