Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 2 de abril de 2016

Ontem


Há coisas de que nos esquecemos, há outras de que não nos queremos lembrar. Ficam todas arrumadas na memória num local chamado ontem.
O ontem da memória é equivalente ao amanhã da vontade: amanhã faço, amanhã começo, amanhã digo. Um local imaginário povoado de sonhos ou fantasmas, conforme os casos.
Contráriamente ao que está por vir, o que já aconteceu por vezes vem-nos à lembrança da forma que menos esperamos.

Tentava esquecer-me dela. Não havia motivo nenhum para me lembrar de nada simplesmente porque não havia nada para lembrar, tudo tinha sido um erro.
De repente, enquanto andava pela rua fora, escorrego, quase caio, e antes de dar com o nariz no chão vejo a cara dela ali à minha frente. Era imaginação a cara, mas a queda foi bem real. Tudo porque debaixo do sapato estava a origem da escorregadela e da lembrança, uma flor que alguém largara no passeio, e que eu, distraído como sou, pisei.
A flor era igual a uma que eu em tempos lhe dei, e por isso me lembrei dela. Fazemos coisas estúpidas, tentamos esquecer e depois vem um azar qualquer e trás tudo à memória.
Quanto à flor, o destino desta não foi muito diferente do destino da outra.