Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Epílogo


A mola azul, farto das desilusões da vida reciclacidou-se, atirando-se de cabeça para dentro do contentor amarelo.
O plástico transformou-se numa bela esferográfica, com que um amante platónico escreve cartas nunca respondidas.
A mola propriamente dita, o arame, faz agora parte do interior de um colchão de molas, pomposamente chamado de ortopédico, colocado no quarto duma pensão a que a modernidade e a fiscalização agora chamam motel, publicitado em cartazes de rua e na rádio local com a frase “mesmo em dias secos, todos os sonhos são molhados”.

A mola laranja foi levada pelo marido da dona, empresário desonesto cujo sucesso medíocre se deve à utilização de esquemas perfeitamente legais. Repousa agora no escritório, a um canto da secretária, prendendo entre os dentes meia dúzia de papéis, os assuntos pendentes.
Escritório esse onde o empresário come as senhoras da contabilidade.
Ironia do destino, o empresário frequenta frequentemente o motel onde jaz o resto da mola azul, para comer as secretárias e as meninas do departamento de marketing.

(Parte 4 de 4 da trilogia "O senhor dos arames")