Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 5 de julho de 2014

A Senhora da Fonte


Viviane, era o nome que ela lhe tinha dito. Curioso, pensou, conheceram-se num supermercado, no corredor das águas, meteram conversa a caminho da caixa e acabaram combinando encontrar-se junto à fonte.
Não havia nada que fazer junto à fonte, excepto esperar. E em pé, pois bancos não havia e a pedra que circundava a fonte estava molhada. Pôs-se então a caminhar em círculos, pequenos a princípio, aumentando o seu tamanho à medida que o tempo passava, até ter percorrido várias vezes o terreiro onde estava implantada a fonte, sempre com as mãos atrás das costas.
Já as sombras da noite iam tomando conta de cada pequeno recanto à sua volta, substituindo sem apelo a fosca claridade do fim do dia, e ainda Artur por ali andava às voltas com os seus passos compassados e os seus pensamentos descompassados.
Até que, a meio de uma das suas voltas, que estava destinada a ser a última, parou, olhou longamente para a fonte e encaminhou os passos para a saída.
Continuava com as mãos atrás das costas mas agora caminhava cabisbaixo. A história nunca se repete, ocorreu-lhe.
De facto, Viviane, a outra, a Senhora do Lago, entregou a Artur, o outro, o Rei, uma espada.
Viviane, esta que em pensamentos apelidara de Senhora da Fonte, cravou-lhe a ele Artur, o crédulo, um punhal na autoconfiança.
A história, de facto, nunca se repete.