Da serra, já muitos escreveram, coisas
boas, coisas más, e assim assim. Sobre a manhã, a tarde, e a noite na serra. Em
prosa ou em rimas refinadas.
Eu, vou-me limitar a escrever sobre um
candeeiro. Aquele que está ali nesta foto que parece da serra de Sintra ao
anoitecer, mas que na verdade é a foto de um candeeiro.
Aquele ali, que está aceso. É verdade que à
data da ocorrência dos factos ele estava apagado. Mas não deixa de ser um candeeiro
na mesma, além de que estava apagado apenas por força das circunstâncias,
porque era de dia.
Foi ali, à luz daquele candeeiro que na
altura estava apagado, que eu a vi pela primeira vez. Confesso que fiquei até
ofuscado. Tinha o sol pela frente, não conseguia distinguir bem as coisas.
Achei-a bela. O amor só por si já é cego. O
amor encadeado pelo sol é bem pior. O amor destilado por uma cabeça em brasa
por estar à meia hora à torreira do sol à espera de um autocarro atrasado toma
proporções inimagináveis.
O atraso serviu de mote para o inicio da conversa,
que versou sobre o autocarro propriamente dito, sobre o sol, sobre tudo, sobre
nada.
Quando a viatura apareceu, embarcámos
juntos para uma viagem que deveria demorar no máximo quinze minutos.
Hoje, passados tantos anos pergunto-me
porque raio é que aquela paragem de autocarro não tem um telheiro como tantas
outras. Em vez disso, tem apenas uma placa presa ao poste do candeeiro.