Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O candeeiro


Da serra, já muitos escreveram, coisas boas, coisas más, e assim assim. Sobre a manhã, a tarde, e a noite na serra. Em prosa ou em rimas refinadas.
Eu, vou-me limitar a escrever sobre um candeeiro. Aquele que está ali nesta foto que parece da serra de Sintra ao anoitecer, mas que na verdade é a foto de um candeeiro.
Aquele ali, que está aceso. É verdade que à data da ocorrência dos factos ele estava apagado. Mas não deixa de ser um candeeiro na mesma, além de que estava apagado apenas por força das circunstâncias, porque era de dia.
Foi ali, à luz daquele candeeiro que na altura estava apagado, que eu a vi pela primeira vez. Confesso que fiquei até ofuscado. Tinha o sol pela frente, não conseguia distinguir bem as coisas.
Achei-a bela. O amor só por si já é cego. O amor encadeado pelo sol é bem pior. O amor destilado por uma cabeça em brasa por estar à meia hora à torreira do sol à espera de um autocarro atrasado toma proporções inimagináveis.
O atraso serviu de mote para o inicio da conversa, que versou sobre o autocarro propriamente dito, sobre o sol, sobre tudo, sobre nada.
Quando a viatura apareceu, embarcámos juntos para uma viagem que deveria demorar no máximo quinze minutos.
Hoje, passados tantos anos pergunto-me porque raio é que aquela paragem de autocarro não tem um telheiro como tantas outras. Em vez disso, tem apenas uma placa presa ao poste do candeeiro.