Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 23 de agosto de 2014

Espanto


Os olhos abrem-se para ver.
A boca abre-se para falar.
Mas também pode ser por outro motivo. Os olhos e a boca podem abrir-se de espanto.
Instintivamente sempre associei a noção de espanto a olhos abertos, muito abertos, apesar da canção de José Mário Branco que não me sai da cabeça dizer: “…meus olhos fechados, mudos, espantados…”
Através das letras e músicas de José Mário Branco imaginava pessoas no tempo do fascismo (no de antigamente, não no actual) que partiram para França por necessidade, a abrirem muito os olhos de espanto ao depararem com uma realidade que nunca suspeitaram existir, devido à ignorância e miséria impostas às populações na altura.

Mas não é de política que quero falar hoje e sim de espanto. O meu lado cão de Pavlov traz-me sempre à memória estas ideias quando fico espantado.
E espanto-me muitas vezes. Tenho noção que faço sempre um esforço para não fazer figura de pacóvio de boca aberta e olhos esbugalhados quando algo me espanta.

Ainda ontem por exemplo me espantei quando vi um porco a andar de bicicleta. Quer dizer, não era bem um porco. E para falar verdade aquilo também não era uma bicicleta.
Mas mesmo assim, era uma coisa de que não estava à espera, e sempre que há alguma coisa que não estou à espera levo um bocado de tempo a reagir até conseguir pensar o que fazer.
Consegui não abrir a boca, e quanto os olhos, bem, tive de me virar para não espantar ninguém com o meu espanto.
Foi difícil e nem tenho a certeza se fui bem sucedido.
O tempo dirá.