Não se sabe bem o que terá acontecido
naquela distante madrugada, quase manhã em que, como habitualmente, dormia
ainda embalado pelas ondas que naquela altura do ano corriam planas pelo vasto
oceano, sopradas pelo vento de sudoeste.
Sonhava, e no sonho imaginava-se a subir ao
degrau mais alto do pódio e a receber a medalha de ouro pela vitória na
maratona das Atlantiadas de 1996. Sim, era um verdadeiro carapau de corrida.
De repente, um barulho ensurdecedor e uma
agitação tremenda das águas quase o fizeram acordar. Quase, porque nem teve
tempo para isso, quando ia a abrir os olhos, uma pancada na cabeça pô-lo
inconsciente. Não se lembrava de mais nada.
Quando finalmente acordou, o primeiro
pensamento que teve foi que tinha morrido, mas depressa se apercebeu que não. Continuava
dentro de água. Só que…
Estava num sitio diferente e não sabia como
tinha ido ali parar. Tudo era diferente. A água tinha um gosto horrível, havia
peixes com aspectos grotescos como nunca tinha visto, e falavam uma língua que
não conhecia, só ao fim de muito tempo conseguiu encontrar outro carapau, e
esse também não sabia porque estava ali.
Não havia correntes, não havia ondas, só
peixes estranhos e ervas que pareciam de plástico.
Até que o coração parou de bater e um grito
lhe escapou do fundo das guelras: ao contornar umas rochas viu parado à sua
frente o ser mais horroroso que já tinha visto, um ser humano que do outro lado
do vidro olhava embasbacado o oceanário.