Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O último vôo do pássaro ferido


Morrer é um destino comum a todos os pássaros. Não há forma de escapar. Mas, por qualquer razão desconhecida, não lhe apetecia morrer. Pelo menos para já. Apesar de isso ser uma forma de se livrar das dores na asa.

A vida, mesmo a de um pássaro, ou sobretudo a de um pássaro, é uma luta constante. Contra os inimigos que de todos os lados surgem. Não há um minuto de descanso, é preciso estar permanentemente alerta. Gostava de conseguir ter tempo para parar e pensar.

Apenas isso: apenas parar, não ter de estar com os sentidos todos alerta para prevenir qualquer ataque, e poder pensar.
Neste momento queria pensar sobre a razão que o levava a não querer morrer. Mas ao longo da sua curta vida de pássaro houve tantas situações em que também quis parar para pensar e não foi possível. Teve de se limitar a agir. Sem saber se bem, se mal.

É estranho um pássaro pensar sobre o bem e o mal. Numa vida de pássaro as coisas não têm de ser boas ou más, apenas são. Além de que é tudo relativo.
É bom conseguir alimentar-se, mas se calhar a lagarta que foi comida não achará isso bem.
É bom continuar vivo, mas o predador que falhou o alvo e ficou com fome talvez não goste da ideia.

Mas, e se o bem e o mal não se limitasse a isso? As questões básicas da existência funcionam por instinto, não têm que ser boas ou más. Mas há mais para além do básico.
Só que continuava sem tempo para poder pensar nisso.