Morrer é um
destino comum a todos os pássaros. Não há forma de escapar. Mas, por qualquer
razão desconhecida, não lhe apetecia morrer. Pelo menos para já. Apesar de isso
ser uma forma de se livrar das dores na asa.
A vida, mesmo a
de um pássaro, ou sobretudo a de um pássaro, é uma luta constante. Contra os
inimigos que de todos os lados surgem. Não há um minuto de descanso, é preciso
estar permanentemente alerta. Gostava de conseguir ter tempo para parar e
pensar.
Apenas isso:
apenas parar, não ter de estar com os sentidos todos alerta para prevenir
qualquer ataque, e poder pensar.
Neste momento
queria pensar sobre a razão que o levava a não querer morrer. Mas ao longo da
sua curta vida de pássaro houve tantas situações em que também quis parar para
pensar e não foi possível. Teve de se limitar a agir. Sem saber se bem, se mal.
É estranho um
pássaro pensar sobre o bem e o mal. Numa vida de pássaro as coisas não têm de
ser boas ou más, apenas são. Além de que é tudo relativo.
É bom conseguir
alimentar-se, mas se calhar a lagarta que foi comida não achará isso bem.
É bom continuar
vivo, mas o predador que falhou o alvo e ficou com fome talvez não goste da
ideia.
Mas, e se o bem
e o mal não se limitasse a isso? As questões básicas da existência funcionam
por instinto, não têm que ser boas ou más. Mas há mais para além do básico.
Só que
continuava sem tempo para poder pensar nisso.