Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O abraço


Corria uma ligeira brisa, o que fazia com que a temperatura fosse um pouco mais suportável naquele quente dia de verão, embora estivessem sentados à sombra da velha árvore.
Sempre que podiam era ali, no cabeço que dominava toda a aldeia, que se encontravam para namorar, longe dos olhares indiscretos de quem fazia da soleira das portas e do peitoril das janelas o local habitual de observação do mundo que os rodeava.
Quer se gostasse ou não, a verdade é que a solidão era a única companhia para quem, tendo trabalhado até ao limite das forças físicas, nada mais tinha para fazer que assistir ao passar vagaroso das longas horas do dia.
Na base do carvalho havia uma rocha e era ai que costumavam sentar-se abraçados, vendo a aldeia a seus pés, e os campos a estenderem-se por montes e vales até à linha do horizonte, enquanto faziam planos para o futuro.
As conversas eram mais monólogos, porque ele pouco gostava de conversar. Raramente fazia perguntas, respondia ao que lhe perguntavam e fazia um ou outro comentário isolado e disperso. Ela, pelo contrário, falava pelos dois, e a maior parte das vezes nem lhe dava tempo para responder, tal a velocidade com que falava, o que normalmente acontecia quando se entusiasmava ao contar-lhe os seus planos. Outras vezes falava do mundo que a rodeava, e nessas ocasiões vinha-lhe ao de cima a nostalgia mas também o orgulho de ter nascido e crescido numa remota aldeia do interior.
- Sabes amor, faz-me confusão as pessoas da cidade. Vêm de férias para o campo, para as aldeias porquê? Se fossem de cá ou tivessem cá família eu compreendia, mas não são de cá nem conhecem cá ninguém. É só porque é moda ir para o campo? Eles nem sabem estar no campo. Mal chegam começam a reclamar com tudo: é porque tem aranhas, porque tem lagartixas, é o chão que é de terra, são as janelas que são de madeira e deixam passar o vento, as portas que fazem barulho a abrir, o colchão que é duro. Espero que tu não venhas a ser assim…
- Assim como? A levar-te de férias para o campo?
- Não tolinho, dizes que me queres junto a ti, mas quando me tiveres espero que não comeces a por defeitos em tudo!