Corria uma ligeira brisa, o que fazia com
que a temperatura fosse um pouco mais suportável naquele quente dia de verão,
embora estivessem sentados à sombra da velha árvore.
Sempre que podiam era ali, no cabeço que
dominava toda a aldeia, que se encontravam para namorar, longe dos olhares
indiscretos de quem fazia da soleira das portas e do peitoril das janelas o
local habitual de observação do mundo que os rodeava.
Quer se gostasse ou não, a verdade é que a
solidão era a única companhia para quem, tendo trabalhado até ao limite das
forças físicas, nada mais tinha para fazer que assistir ao passar vagaroso das
longas horas do dia.
Na base do carvalho havia uma rocha e era ai
que costumavam sentar-se abraçados, vendo a aldeia a seus pés, e os campos a
estenderem-se por montes e vales até à linha do horizonte, enquanto faziam
planos para o futuro.
As conversas eram mais monólogos, porque
ele pouco gostava de conversar. Raramente fazia perguntas, respondia ao que lhe
perguntavam e fazia um ou outro comentário isolado e disperso. Ela, pelo
contrário, falava pelos dois, e a maior parte das vezes nem lhe dava tempo para
responder, tal a velocidade com que falava, o que normalmente acontecia quando
se entusiasmava ao contar-lhe os seus planos. Outras vezes falava do mundo que
a rodeava, e nessas ocasiões vinha-lhe ao de cima a nostalgia mas também o
orgulho de ter nascido e crescido numa remota aldeia do interior.
- Sabes amor, faz-me confusão as pessoas da
cidade. Vêm de férias para o campo, para as aldeias porquê? Se fossem de cá ou
tivessem cá família eu compreendia, mas não são de cá nem conhecem cá ninguém. É
só porque é moda ir para o campo? Eles nem sabem estar no campo. Mal chegam
começam a reclamar com tudo: é porque tem aranhas, porque tem lagartixas, é o
chão que é de terra, são as janelas que são de madeira e deixam passar o vento,
as portas que fazem barulho a abrir, o colchão que é duro. Espero que tu não
venhas a ser assim…
- Assim como? A levar-te de férias para o
campo?
- Não tolinho, dizes que me queres junto a
ti, mas quando me tiveres espero que não comeces a por defeitos em tudo!