A morte, essa parte integrante da vida,
está sempre presente desde o nascimento. Pertence-lhe. Como tal, o proprietário
da vida, é por inerência, o proprietário da morte.
Não existe vida depois da morte, tal como
não existe morte antes da vida. A única coisa que a morte faz é transformar
vivos em mortos. Não transforma pessoas que não prestam em pessoas boas. São por
isso completamente despropositados os discursos e elogios aquando de algumas
mortes.
Mais do que a dignidade da morte, interessa
sobremaneira a dignidade da vida. É a vida que tem que ser vivida, não a morte,
e é em vida que se podem fazer mudanças que contribuam para o progresso, o
desenvolvimento, o bem estar, ou seja, a dignidade.
Num mundo que se rege pelas aparências, a
morte não foge à regra. Desde logo na forma de vestir o morto. Os estereótipos
da vida prolongam-se pela morte fora. Mas sobretudo na forma como se gasta
dinheiro com a morte. As agências funerárias são autênticas agências de
viagens. E no fundo a viagem é tão curta, apenas até ao quintal que existe em
quase todas as localidades e a que chamam cemitério.
As pessoas morrem acima das suas
possibilidades. Se há os que vão a funerais apenas para serem vistos, há os que
pagam funerais apenas para impressionar quem lá vai.
As aparências na morte reflectem as
aparências com que se tentou mistificar a vida.