Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 15 de novembro de 2014

Um longo entardecer


Os pássaros. Outra vez os pássaros, sempre os pássaros. Não se ouvia mais nada além do canto e do voo dos pássaros. É verdade que também conseguia distinguir o agitar das agulhas dos pinheiros provocado pelo vento, mas na sua simplicidade chegava a acreditar que o vento era provocado pelo movimento das asas dos pássaros.
Se ela ali estivesse…
Decerto quebraria o silêncio, com a sua conversa e o seu riso. Não era pessoa de ficar calada muito tempo. Mas não estava.
E não era de agora que não estava. Era há muito, muito tempo.
Já várias vezes tinha pensado no assunto e nunca encontrara resposta. Não sabia porque ano após ano voltava sempre àquele lugar. Não era para pensar nela, porque sabia que a queria esquecer. Não era à espera de a encontrar, porque sabia que ela nunca voltava atrás. Não era pelo fascínio do lugar, que apesar de belo, calmo e silencioso é apenas um no meio de tantos outros que existem.
Fechou os olhos e ao fechá-los reviu aquele longo entardecer em que os dois nus dentro de água, ali ficaram até que os reflexos de prata da Lua que acabava de surgir por sobre os cabeços da outra margem lhes recordou que eram horas de regressar.