Os pássaros. Outra vez os pássaros, sempre
os pássaros. Não se ouvia mais nada além do canto e do voo dos pássaros. É verdade
que também conseguia distinguir o agitar das agulhas dos pinheiros provocado
pelo vento, mas na sua simplicidade chegava a acreditar que o vento era
provocado pelo movimento das asas dos pássaros.
Se ela ali estivesse…
Decerto quebraria o silêncio, com a sua
conversa e o seu riso. Não era pessoa de ficar calada muito tempo. Mas não
estava.
E não era de agora que não estava. Era há
muito, muito tempo.
Já várias vezes tinha pensado no assunto e
nunca encontrara resposta. Não sabia porque ano após ano voltava sempre àquele lugar.
Não era para pensar nela, porque sabia que a queria esquecer. Não era à espera
de a encontrar, porque sabia que ela nunca voltava atrás. Não era pelo fascínio
do lugar, que apesar de belo, calmo e silencioso é apenas um no meio de tantos
outros que existem.
Fechou os olhos e ao fechá-los reviu aquele
longo entardecer em que os dois nus dentro de água, ali ficaram até que os
reflexos de prata da Lua que acabava de surgir por sobre os cabeços da outra
margem lhes recordou que eram horas de regressar.