Era domingo, era verão, era meio dia.
Àquela hora, com aquele calor todo, ninguém estava a trabalhar nos campos em
redor. Reinava pois o silêncio, apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros,
que para esses não havia meio dia.
Na gare da estação apenas um passageiro,
que se mantinha também ele em silêncio. Não tinha com quem falar, é certo, mas
mesmo que houvesse mais alguém é provável que se mantivesse calado. Os
pensamentos prendiam-lhe a atenção. Fazia planos. Tentava imaginar como seria
quando estivesse longe dali.
Não é que houvesse muitas coisas para planear,
porque quando se dispôs a partir, preparou as coisas com calma e sem
sobressaltos, no fundo quilo era uma mudança e não uma fuga.
Os pensamentos que agora tinha eram uma
forma de manter o cérebro ocupado para não pensar nela e na possibilidade de a
encontrar. Havia muito poucos comboios naquela terra e quis o destino que
partisse no comboio em que ela ia regressar. O comboio ao domingo tinha apenas
duas carruagens, pelo que havia cinquenta por cento de probabilidades de a
enfrentar cara a cara quando o comboio parasse.
Oficialmente não sabia que ela ia regressar
porque ela não lho disse, soube-o por intermédio de outras pessoas. Era suposto
que, caso a visse, mostrasse surpresa, mas sabia que se isso acontecesse não ia
conseguir fingir.
Vindo do nada, ouviu-se à distância um
apito do comboio. Lentamente levantou-se, pegou na mala, a única que tinha e
sem olhar para trás aproximou-se da beira da estação. Uma ideia veio-lhe nesse momento à cabeça: se alguma vez lhe
perguntassem de onde vinha, em vez de dizer “Casal do Monte”, que era o nome
correcto, diria “Casal do Monte das Desilusões”.
Era mais apropriado.