Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Seca


Olhou novamente para o relógio. Não que precisasse de saber as horas, era só para fazer alguma coisa em vez de estar quieto. Não conseguia estar quieto. Que seca, o autocarro estava atrasado e estava farto de ali estar. Com um suspiro resignou-se a ter de esperar: não havia alternativa.
Deu consigo a introspectivar-se. E não conseguiu deixar de se recriminar a si próprio. Não havia de facto alternativa, mas era fácil impacientar-se e reclamar, ainda que o fizesse para dentro.
O problema punha-se nas restantes situações do dia a dia, e que curiosamente eram a maioria das situações da vida: há sempre alternativas, mas por qualquer razão que desconhecia, deixava-se ficar acomodado, e pior que tudo, sem protestar. Estranha forma de vida.
Com um ronco surdo, o autocarro apareceu por fim. O mau humor passou, e com um sorriso embora tímido nos lábios entrou e sentou-se. Sim, é sempre mais fácil descarregar nos mais fracos. Descobriu finalmente que o que o irritava não era o atraso do autocarro, era ir perder o seu tempo com alguém que nem merecia que aparecesse.