Olhou novamente para o relógio. Não que
precisasse de saber as horas, era só para fazer alguma coisa em vez de estar
quieto. Não conseguia estar quieto. Que seca, o autocarro estava atrasado e
estava farto de ali estar. Com um suspiro resignou-se a ter de esperar: não
havia alternativa.
Deu consigo a introspectivar-se. E não
conseguiu deixar de se recriminar a si próprio. Não havia de facto alternativa,
mas era fácil impacientar-se e reclamar, ainda que o fizesse para dentro.
O problema punha-se nas restantes situações
do dia a dia, e que curiosamente eram a maioria das situações da vida: há
sempre alternativas, mas por qualquer razão que desconhecia, deixava-se ficar
acomodado, e pior que tudo, sem protestar. Estranha forma de vida.
Com um ronco surdo, o autocarro apareceu
por fim. O mau humor passou, e com um sorriso embora tímido nos lábios entrou e
sentou-se. Sim, é sempre mais fácil descarregar nos mais fracos. Descobriu
finalmente que o que o irritava não era o atraso do autocarro, era ir perder o
seu tempo com alguém que nem merecia que aparecesse.