Talvez um dia
Contra ventos e marés
A terra acorde seca
Sem a água do seu rio.
Talvez um dia
Quando os barcos atracarem
As cordas e as correntes
Os prendam ao próprio rio.
Talvez um dia
Quando os peixes protestarem
Deixe de haver pescadores
Deixe até de haver rio.
Talvez um dia
Para lá da Lua cheia
Não haja ondas nem espuma
No leito seco do rio.
Talvez um dia
As colunas deste cais
Se ergam, tristes, do fundo
Onde antes era um rio.
Talvez um dia
Até as próprias gaivotas
Se recusem a pescar
Nas águas secas do rio.
Talvez um dia
Deixe de haver memória
Ninguém saiba ou recorde
Que vida havia no rio.