O palhaço andava triste. As coisas até
teriam graça se não fossem tão tristes. Tudo tinha a sua piada, mas ninguém lhe
achava graça.
O palhaço ria-se de tudo, até de si
próprio, sobretudo de si próprio. Mas era constantemente acusado de estar
sempre a brincar, de não levar as coisas a sério. Como se a vida fosse para
levar a sério.
Um dia alguém o acusou até de se sentir
ofendido. E era com uma brincadeira, imaginem se fosse a sério. Como se não
houvesse já coisas bastantes a separá-los, agora até uma simples brincadeira os
afastava mais.
Não era isso que queria. Por isso resolveu
que daí em diante iria ficar calado. Assim não ofenderia ninguém.
Continuaria a ser palhaço, porque isso não
se deixa nunca, a única diferença é que passaria a ser o palhaço silencioso.