Era quase inverno, anoitecia cedo e
arrefecia mais cedo ainda. Muito antes de os ponteiros do relógio chegarem à
hora do jantar já o prenúncio frio da noite convidava mais a ficar em casa do
que a expor-se ao vento, na praça.
No entanto, foi precisamente ali, junto ao
repuxo, que combinara encontrar-se. Havia uma razão para isso. Aquele local,
àquela hora estaria practicamente deserto, com excepção de um ou outro passante
apressado no seu caminho de regresso a casa.
Não se importava. O que tinha para dizer
não era nada de caloroso ou reconfortante. Era antes a fria despedida da
desilusão.
Sim, sentia-se desiludido, frustrado e
cansado. Sobretudo cansado de remar. Há meses, anos, que remava cada vez com
mais vigor na tentativa de se aproximar. O que acontecia era que cada vez
estavam mais longe porque a corrente da indiferença e do desprezo eram mais
fortes.
Sim, perdera, e por muito que lhe custasse
tinha que o admitir e parar de uma vez por todas, antes de se cansar mais.