O silêncio manso do vale apenas interrompido pelo canto dos pássaros e pela água a murmurar baixinho junto às rochas que ladeiam as margens do rio, foi agitado pela intempestiva chegada de um grupo de cavaleiros.
O som abafado do cavalgar na terra seca e
poeirenta deu lugar, quando se aproximaram da ponte, ao estridente som metálico
dos cascos contra as pedras da calçada.
Diminuíram a sua marcha, e avançaram
reagrupados e em passo lento até ao pesado portão fechado, em frente do qual
pararam.
Do alto da torre uma voz perguntou: Quem
vem lá?
Um dos cavaleiros fez a sua montada dar um
passo em frente e respondeu:
- Gente de bem, Dom Gualdim Espadachim,
Senhor de Riba Monte, regressa a casa depois de ter dado uma lição aos infiéis
de Além Rio, com a ajuda de São Tiago.
- Que os Céus vos tragam em Paz, respondeu
a mesma voz. Porém conheceis as regras de passagem instituídas por Dom Venâncio
Ganâncio, o senhor meu amo e dono destas terras?
- O saque que trazemos será suficiente para
pagarmos o tributo que nos for exigido pela passagem, acrescentou o mesmo
cavaleiro.
O
resto da história já é conhecido. Desde tempos imemoriais e até ao presente, com
o apoio dos santos, os Gualdins saqueiam e os Venâncios extorquem as populações
indefesas. Tudo gente de bem e tudo por causa da infidelidade.
Que,
quer no seu sentido lato quer no restrito, será tema para outro dia.