Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O lago


Caminhei um bocado ao acaso por entre as árvores. Ouvia apenas os meus próprios passos, o chapinhar dos patos no lago, o canto dos pássaros voando de ramo em ramo, um grilo distante, o vento agitando as folhas.
Sentei-me à beira do lago quando encontrei um local que me pareceu confortável, tanto quanto um pedaço de chão o pode ser. Uma erva que podia à vista desarmada confundir-se com relva cobria a terra, enquanto a árvore que ali crescia tinha o tronco torcido, com uma inclinação que me permitia encostar como se estivesse reclinado num sofá.
Vim depois a descobrir que o conforto era só aparente, e devido à dor nas costas, rapidamente mudei de posição: inclinei-me para a frente, coloquei os cotovelos sobre os joelhos, apoiei o queixo nas mãos e ali fiquei.
Lembrava-me de a ter levado ali uma vez. Foi à muito tempo. Na altura não falávamos muito, sentámo-nos algures por ali, e ficámos a ver a água. Passado um bocado tirou os chinelos, levantou-se e foi molhar os pés entrando devagar pela água, quase até aos joelhos.
Já eu imaginava que se iria transformar em sereia e encantar-me, e eis que volta para trás e acabou-se o encanto: queria ir embora porque a água estava fria e gelaram-se-lhe os dedos.