Caminhei um bocado ao acaso por entre as árvores.
Ouvia apenas os meus próprios passos, o chapinhar dos patos no lago, o canto
dos pássaros voando de ramo em ramo, um grilo distante, o vento agitando as
folhas.
Sentei-me à beira do lago quando encontrei
um local que me pareceu confortável, tanto quanto um pedaço de chão o pode ser.
Uma erva que podia à vista desarmada confundir-se com relva cobria a terra,
enquanto a árvore que ali crescia tinha o tronco torcido, com uma inclinação
que me permitia encostar como se estivesse reclinado num sofá.
Vim depois a descobrir que o conforto era só
aparente, e devido à dor nas costas, rapidamente mudei de posição: inclinei-me
para a frente, coloquei os cotovelos sobre os joelhos, apoiei o queixo nas mãos
e ali fiquei.
Lembrava-me de a ter levado ali uma vez.
Foi à muito tempo. Na altura não falávamos muito, sentámo-nos algures por ali,
e ficámos a ver a água. Passado um bocado tirou os chinelos, levantou-se e foi
molhar os pés entrando devagar pela água, quase até aos joelhos.
Já eu imaginava que se iria transformar em
sereia e encantar-me, e eis que volta para trás e acabou-se o encanto: queria
ir embora porque a água estava fria e gelaram-se-lhe os dedos.