Quando o telefone toca não é ela que me
liga. Todos os dias repito para mim próprio que não espero nenhum telefonema
mas a verdade é que não consigo enganar ninguém nem a mim próprio, e lá vou eu
ver o que me reserva o visor não vá ela precisar de alguma coisa. Sim, que quando
precisa, liga.
Também não é para pedir música, isso já não
se usa.
Ultimamente o telefone tem tocado sempre duas
vezes e não é o carteiro. É telemarketing e parece que é legal.
Tudo o que é contra as pessoas, desde o que
mata até o que apenas moi, parece que é legal. E estes telefonemas todos moem-me
a paciência.
Não serve de nada dizer que estão a
incomodar e exigir que escrevam na base de dados que têm à frente do focinho que
não quero ser contactado de novo. Eles estão-se marimbando para os meus
incómodos e voltam mesmo a ligar.
Ah, mas quanto aos incómodos deles, parece
que a coisa é diferente. Vai daí comecei eu incomodar-lhes a carteira, que é a
única coisa a que esta escumalha dá valor.
Todas as vezes que ligam, e são muitas,
pagam uma chamadinha, porque eu atendo-os, só que o telefone fica pousado onde
estiver e eles falam sozinhos até se cansarem.
Talvez assim aprendam.