Trazia tudo preparado, a corda, a pedra. Só
lhe restava esperar. Chegou, olhou em volta lentamente como quem admira a
paisagem, encaminhou-se para um banco de jardim vazio e sentou-se.
Do banco de jardim vazio o seu olhar vazio
percorreu o espaço vazio que o rodeava. Viu a Lua subir lentamente acima do
horizonte, viu os patos a entrar e a sair da água, viu um bando de gaivotas a
voar em círculos, viu um melro a saltitar sobre a relva à sua frente. Uma das
vezes que apareceu quase pousou na ponta do seu sapato, de tão imóvel que
estava.
Quando lhe pareceu que já estava escuro o
suficiente e que mais ninguém andava por ali, levantou-se e encaminhou-se para
a beira do lago. Tirou a pedra do bolso e atou-lhe a corda. Depois pegou nos
seus sonhos e atou-os à outra ponta da corda. Fazendo pontaria àquilo que lhe
pareceu ser a parte mais funda do lago, atirou o conjunto todo com quanta força
tinha.
Enquanto regressava a casa pensou: Pronto,
já está! Com sonhos destes quem é que precisa de pesadelos?