Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.
Mostrar mensagens com a etiqueta guerra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta guerra. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Amor em tempo de guerra


A maré estava a subir, parte do pontão já estava submerso, não poderiam ficar ali muito mais tempo. O Sol também estava quase a pôr-se, em breve ficaria escuro. E quando isso acontecesse sairiam dali, despedir-se-iam, e cada um seguiria para sua casa.
Voltariam a ver-se? Voltariam sequer a falar-se?

Era talvez o medo de enfrentar o desconhecido que o impedia de falar. Sabia que não teriam futuro, o que não imaginava é que o futuro começasse já amanhã.

Sabia que iam haver barricadas e cada um estaria num lado diferente. O mundo eternamente dividido em classes. E famílias. As boas de um dos lados, as outras num lado qualquer. E havia também todos aqueles que não tinham família e por via disso nem direito a barricada tinham. A carne para canhão.

Ocorreu-lhe que pudessem desertar os dois. Ah, mas havia dois problemas. Mais uma vez o medo a tolher-lhe os movimentos: sabia de fonte segura, pois era o seu coração que lho dizia, que gostava dela o suficiente para fazer isso, mas nem se atrevia a fazer a proposta, pois sabia também que não tinham nenhuma relação assim tão profunda que o justificasse.
Relação profunda existia, e esse era o segundo problema, entre ela e o seu mundo, as suas origens, o seu status. E trocar tudo isso pela companhia de um soldado raso, e ainda por cima do inimigo, era coisa que estava obviamente fora de questão.

Não tinha explicação para o facto de ter começado a gostar dela. E acaso essas coisas têm explicação? Gosta-se e pronto. Começa tudo como se fosse um sonho, deixamo-nos adormecer e quando acordamos vêm as dores todas ao de cima. Custa muito enfrentar a realidade habituados que estávamos ao sonho.

A preocupação principal agora era com os danos colaterais. Sabia, mais uma vez de fonte segura, que pela sua parte não lhe causaria a ela nem sequer um arranhão.
Mas, e ao contrário? Não tinha certezas. Havia o risco muito grande de as más influências que a cercavam a virarem contra si. E se isso viesse a acontecer custar-lhe-ia tanto como a morte.

Encolheu os ombros, suspirou e resignou-se com a sua sorte. No fundo, sabia que histórias cor de rosa que acabem sempre bem existem apenas na literatura e no cinema. Na vida real não há guião, é tudo de improviso.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Com tradição


O barco é de guerra, mas estamos em paz. E manda a tradição que “barco de guerra atracado, paspalhos a visitá-lo ao fim de semana”.
Havia de haver uma guerra, para esta gente que gosta da guerra e de guerras. E que os dizimasse a todos ou pelo menos quase todos.
Infelizmente isso não é possível, porque a guerra, tal como o Sol, quando nasce é para todos, e estariam também os inocentes envolvidos. E os inocentes, mesmo em tempo de paz, já sofrem muito.