Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Serralho-carpintaria


A carpintaria hoje virou serralharia. Fui comprar tubo de alumínio, calha de alumínio, perfil de alumínio, parafusos de várias medidas, porcas de várias medidas, serra de metal, lâminas de serra de metal, cola instantânea. E ainda usei um rolamento que era para a mesa da serra tico tico que vou fazer quando puder, e que agora vou ter de comprar também.
E estou quase a ficar maluco com isto.
Parte das coisas não foram utilizadas, mas eu não sabia o que ia fazer, estive a experimentar a partir do zero. Tinha uma ideia na cabeça mas não sabia como chegar lá, foi tudo por tentativas.
A montagem final até que ficou bastante bem. Amanhã vou fazer a moldura em madeira: sem pressões (espero eu) vou-me sentar a uma mesa com uma folha em branco e calcular as medidas todas sem erros.
Depois vamos todos ficar a saber o resultado. Só há duas hipóteses: ou resulta ou é mais uma das minhas invenções de merda.





domingo, 29 de maio de 2016

Caniçal III


Ponto da situação do caniçal, desde o arrancar do mato até ao dia de hoje.
Ainda está um bocado atrasado, faltam apanhar muitas canas, cortá-las, espetá-las na terra, prende-las.





sábado, 28 de maio de 2016

Vento de mudança


A estrada levou as gentes para outras paragens, à procura de outras andanças. Aqui dependiam do vento, mas também do sol, e da chuva.
Trocaram o incerto pelo desconhecido. Por desconhecidos. Lá dependiam essencialmente de desconhecidos.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Conto "Razão de existir"


Dei cabo de um fascista. Foi só no plano virtual, mas é melhor que nada. Todos temos a obrigação de contribuir para a construção de um mundo melhor, e no plano virtual também se fazem muitas coisas boas.
Com o retrocesso civilizacional a que temos assistido nos últimos tempos, todas as migalhas contam e todos somos necessários para combater as forças que nos querem de novo na idade das trevas.

A minha parte da história, o capítulo XI, está neste link:
http://contospartilhados.blogspot.pt/2016/05/razao-de-existir-capitulo-ix_25.html

mas a verdade é que se só lerem este bocado não vão perceber nada, o melhor é puxarem o cursor para trás e lerem a história desde o princípio.

terça-feira, 24 de maio de 2016

A salada


De courgetes e alface, embora de courgetes só existam ainda folhas e flores, frutos nem vê-los.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Caniçal II


Começou a construção do muro. O acordo de Schengen não chegou aqui nem se aplica a cães.
Os tomates já estão de fora (da terra), um pé de melão já levou com um pé do cão e perdeu a única folha que tinha, os courgetes precisam de transladação. Por tudo isto a construção tem de ser o mais rápida possível.

domingo, 22 de maio de 2016

Ao entardecer


É a hora dos mosquitos e das melgas. É a hora do regresso a casa após um dia de trabalho. É a única hora que nos permite encontrar e falar, sem ser por telemóvel ou por computador.
É à hora dos mosquitos e das melgas que nos encontramos num banco do jardim da cidade. Há quem prefira uma mesa de café. Outros, a confusão de um centro comercial.
Nós, porque é a loucura que nos une, preferimos o jardim da cidade, de onde vemos surgir a pouco e pouco as sombras que dominarão a noite enquanto o Sol estiver a dormir.
Há tolos que chamam a isto amor.

sábado, 21 de maio de 2016

No início era a folha


Folha de parreira já tenho. Resta-me agora esperar que surja uma Eva acompanhada de uma cobra e de uma maçã.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Rampa de lançamento


E no meio da loucura surge a lucidez necessária para nos fazer seguir em frente.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Caniçal


Vou começar com uma nova cultura. De canas, desta vez. Dentro de alguns dias espero ter aqui algumas imagens elucidativas.

Que horas são?


São horas de o relógio já estar pronto e por minha causa ainda não está. Problemas vários atrasaram a construção. A começar pelos problemas propriamente ditos que me foram colocados, e que tiveram de merecer uma solução adequada.

A fresa (tupia) é uma ferramenta nova para mim de modo que tive de fazer e aprender ao mesmo tempo, para não atrasar ainda mais o processo.
Mas os problemas não se ficaram por aqui. Cortes para serem direitos têm de ser feitos com uma guia.
Guia? Qual guia? E como é que guia? Ok, substitui-se o sono pelo pensamento e logo se inventa qualquer coisa. A noite também se fez para isso. Há quem pense mais e melhor a dormir do que muita gente acordada.

Manhã cedo, ainda os empregados estavam a bocejar e a tirar a ramela dos olhos e um cliente chato já estava à porta da loja, pronto para sair passados poucos minutos com um molho de ripas debaixo do braço.
O Sol quando nasce não é para todos e os dezoito milímetros de espessura marcados nas tábuas também não. Aquilo é assim a modos que aproximado. Com as ripas todas montei o dispositivo, fiz dois cortes de experiência numa tábua velha, mas depois quando começou a ser a sério surgiram mais problemas.

Primeiro tive de ajustar (desbastar) a altura das guias inferiores porque a fresa ao deslizar batia no final.
Depois ao tentar enfiar uma peça por baixo das guias superiores, que são finas, não reparei que não cabia porque tinha ligeiramente mais que os dezoito milímetros e parti uma delas. Como resultado tive de a substituir.

Quando tudo parecia pronto, o quadrado que eu ia trabalhar na realidade, a verdadeira origem de toda esta trabalheira, não era quadrado. Um dos lados tinha mais um ou dois milímetros do que o outro.
Não olhem assim para mim porque a culpa não foi minha. A peça em questão foi cortada na loja aquando da compra da madeira.
A orientação da madeira tinha de ser em função dos veios, e por isso o que tinha de entrar no canal do dispositivo era o tal lado de dois milímetros a mais, o que obrigou a nova desmontagem para ajustar o tamanho.
Várias horas depois a coisa ficou pronta. Restou a auto-satisfação de ter ficado conforme tinha previsto.

Para finalizar faltava só fazer na parte de trás da madeira um entalhe para o mecanismo de relógio.
Perfeito. Quando tiver mais algum tempo de aprendizagem posso fazê-lo com a fresa, em vez de fazer à mão.

O filme que segue em anexo tem bolinha vermelha no canto. É proibido mandar piropos às gajas mas a mim ninguém me proíbe de mandar piropos às minhas próprias madeiras. Sobretudo àquelas que não se comportam como eu quero.
É um bocado grande o filme. As partes mais interessantes começam no minuto 23’20” e 35’25”.


segunda-feira, 16 de maio de 2016

A cimentar é que a gente se entende


Está uma bela merda.
Comprei um saco de areia e outro de cascalho mas nenhum deles trás instruções. E a defesa do consumidor o que é que faz? Nada. É sempre a mesma coisa, eles falam, falam, falam...
O saco de cimento ainda dizia "cimento" do lado de fora, agora os outros dois não tinham nada, nem uma letrinha sequer, era só plástico transparente.
Depois admiram-se que existam derrapagens orçamentais.
Não há colher de pedreiro que aguente.

domingo, 15 de maio de 2016

A espreitadela


Levantou-se tarde, como quase sempre acontecia. Não gostava muito de acordar cedo. Conhecia de cor aqueles adágios populares do “cedo erger”, “dá saúde”, “quem madruga, não sei o què” e blá blá blá.
Achava que não passavam de patranhas para encher as mentes de pacóvios, daqueles que aceitam as coisas apenas porque alguém lhas diz, sem se darem ao trabalho de pensar se são verdade ou mentira.
Cedo ou tarde, o seu dia tinha as mesmas horas e realizava as mesmas tarefas tal como qualquer outro, daí que não se preocupasse muito com falatórios.
Eram vinte horas mais um minuto quando se levantou hoje. Um dia, ou uma noite, como tantas outras, nada de novo, era algo há muito tempo previsto no grande livro dos dias e das noites, a sua rotina de vida a isso obrigava.
Assim que as nuvens permitiram, espreitou cá para baixo. Era uma das suas tarefas, verificar o estado das coisas, embora muitas vezes por condições atmosféricas adversas isso não fosse possível.
O que os aparelhos lhe indicavam é que nesse dia, tal como em qualquer dia que fosse, estavam sempre um pouco à frente do que estavam no dia anterior. A essência da existência a isso obrigava, porque não há nada estático no Universo e a vida é uma espiral continua que marca o ritmo da evolução.
Esta lei, como qualquer lei, tem excepções, e há de facto coisas estáticas no Universo. São algumas das mentes humanas.
Hoje, ao espreitar, ouviu um grande ruido. Não teve ilusões, conhecendo a cobardia e o comodismo humanos como conhecia, sabia que não estava ninguém a lutar pelos seus direitos. Ainda assim teve curiosidade em saber o que era e debruçou-se um pouco mais sobre a nuvem que lhe tapava parte da visão.

Não era nada de importante, era apenas por causa de um jogo de futebol.

sábado, 14 de maio de 2016

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A luz


Que o progresso do século XXI leve a luz a cada vez mais e mais pessoas.
Aos que vivem na escuridão pela pobreza e aos que vivem no obscurantismo pela crendice.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A Cascata


Não tem uma cascata em casa?



Faça uma! Tudo o que precisa é disto:


Quantos mais furos fizer, mais cascatas tem.


Este é o planalto de onde vem a água:


terça-feira, 10 de maio de 2016

A máscara


Por vezes a máscara cai, e é o fim do mundo.
Outras vezes a máscara tira-se, e é o começo de uma nova experiência.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

A presença


O palco mostra a realidade, reflecte o que se passa no mundo, à nossa volta.
Do lado de cá é tudo a fingir, finge-se que estamos a ver, finge-se que ninguém nos vê.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Progresso


Dos paus para as pedras. É assim a evolução.
Depois de esfregar a madeira da mesa com a lixa, esfrego as pedras do chão com a escova.
E com lixivia.
Estou lixado.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

Espelho meu


E depois sabes, há aquela sensação estranha de estarmos a ser observados, de saber, ou pressentir que as pessoas não tiram os olhos de nós.
No fundo, espelho meu, não vêm nada, observam apenas o seu próprio reflexo e julgam encontrar algo nunca visto.
Até certo ponto estão certos porque cada momento é único e irrepetível. Mas quanto ao resto, como se enganam.
Há os que procuram por alguma diferença, algo de melhor hoje do que ontem, esquecendo que as suas rotineiras vidas, as suas acções monocórdicas e repetitivas apenas produzem resultados iguais aos que produziram.
Há os que anseiam manter-se iguais, que olham a medo temendo encontrar traços da passagem do tempo, enganando-se a si próprios por querem interromper a marcha do relógio e do calendário.
Sabes, espelho meu, hoje olhei-te e achei graça à forma como olhaste para mim. Parecia que estavas com pena de mim. Não tenhas, pois nem eu tenho.