Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

domingo, 30 de abril de 2017

A beleza das curvas


Se não houvesse curvas, seriam só ângulos, muitos dos quais rectos, ou seja, seria tudo quadrado.
Não consigo imaginar uma mulher feita só de esquinas e arestas.

sábado, 29 de abril de 2017

Liberdade para os sacos do lixo


Vivemos um tempo em que já não se pode ser porco à vontade. Um saco de lixo já não tem o direito de coexistir pacatamente com a paisagem circundante. A bombofobia tomou conta das mentes, telefona-se para o cento e não sei quê, vem o INEM dos explosivos, manda evacuar, e lá vão cascas de batatas pelos ares.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Alameda das Mãos nos Bolsos


Quando não há nada para fazer, passeia-se no jardim. As mãos nos bolsos são uma espécie de travão que reduz a velocidade dos passos. Devagar observa-se melhor e o passeio rende mais.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

quarta-feira, 26 de abril de 2017

A janela do meu bairro


Sob um céu de trovoada, alguns moradores arriscam a sair das suas casas. Por necessidade, vontade, ou apenas teimosia. Que a vontade conta muito e o que tem de ser tem muita força.
A um domingo de inverno à tarde não há comércio aberto, e o passeio, se passeio se trata, resume-se ao maço de tabaco ou ao cão na ponta da trela.
Os outros, a maioria, deixam escorrer as horas nos ecrãs das tardes de cinema ou nos relatos da bola, que amanhã é dia de trabalho.

terça-feira, 25 de abril de 2017

segunda-feira, 24 de abril de 2017

A floresta


É preciso passar. Temos de passar. O outro lado espera-nos.
Os caminhos estão todos obstruídos. Não existem caminhos. Os caminhos que não existem estão obstruídos.
A pressa, sempre a mesma pressa a ditar as acções. A ânsia de chegar aonde não queremos estar. A vontade de cumprir vontades impostas.
Autómatos, sem raciocínio próprio, seguem o caminho previamente traçado, mesmo que esse caminho não exista, mesmo que esteja obstruído. Cegos, desnorteados, chocam, atrapalham-se, culpam-se mutuamente, sem verem a verdadeira origem da culpa. E lutam, e matam-se.
E o outro lado, já ali, à espera.
A rir-se.

domingo, 23 de abril de 2017

Os malmequeres da cidade


Já não atraem as abelhas como antigamente. O facto de serem plantas pequenas que vivem junto ao chão, onde se concentram os gases nocivos que são mais pesados que o ar, talvez explique alguma coisa.
Outra das explicações é que em boa verdade, não há muitas abelhas para atrair. E assim entramos num circulo vicioso.
O lado bom da história é que felizmente há malmequeres que não desistem.

sábado, 22 de abril de 2017

Miradouro


Dentro do livro havia um bilhete, do tempo em que os transportes públicos tinham bilhetes. Fechou o livro e concentrou-se no bilhete. Achou curioso que ainda não tivesse reparado nele, porque já andava a ler aquele livro há perto de três semanas.
Era um bilhete da Carris, cor de rosa e com o preço de 1$00. Quantos anos teria? Não fazia ideia nenhuma. Talvez em casa, com a internet conseguisse descobrir em que época a Carris tivera bilhetes com aquele preço. Virou-o e a curiosidade aumentou. Escrito a lápis estava a frase "não vás lá hoje - RS".
Esqueceu o livro, que pousou no banco ao seu lado. Ainda não era hoje que o ia acabar de ler. Esqueceu a paisagem. Encostou-se para trás, esticou as pernas, e ali ficou com o olhar fixo no verde à sua frente, a pensar no bilhete, em quem o escreveu, a quem se destinava, no significado da frase.
Sentia-se o Inspector Colombo.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

No reduto das princesas


Abriu a janela e olhou para baixo. É um bocado alto, pensou. Apoiou os cotovelos no parapeito, colocou as mãos debaixo do queixo e ficou pensativa, a olhar o infinito, que visto ali do alto era bué de longe.
Lamentava agora ter mandado cortar a trança. Sempre que fazia birra, era quase todos os dias, esbracejava, gritava, chorava, e acabava por ficar toda despenteada, parecia aqueles cães peludos nos quais não se distingue onde fica a cabeça e onde fica a cauda. Um dia, num acesso de raiva, mandou vir uma cabeleireira e cortou o cabelo.
Agora, sem trança, o príncipe não tinha como subir. Se ele não sobe, desço eu, pensou. Dirigiu-se à cama e desfez tudo em busca dos lençóis, mas com tantas modernices nem lençóis havia, eram só edredons e capas de edredons, o que não dava para nada.
Ainda pensou em pedir as capas às irmãs, de forma a atar várias umas às outras, ma depressa desistiu da ideia. Aquelas betinhas idiotas iriam logo contar aos pais,e já sabia qual seria o castigo.
Seria transferida para um quarto cuja janela dava para o pátio interior e, horror dos horrores, onde chegariam a toda a hora, os sons das liras, das cítaras, dos alaúdes e as vozes esganiçadas das cantoras líricas que permanentemente divertiam a restante família e seus convidados, em festas das quais não se conhecia o início nem se sabia quando terminariam.
Por mais que pensasse não encontrava uma forma de sair dali. Lamentou-se mais uma vez, agora por não saber fazer nada. Se soubesse costurar, por exemplo, fazia um avental e uma touca que lhe cobrisse a cara quase toda e podia assim sair disfarçada de empregada.
Nem o príncipe a poderia ajudar. Por uma daquelas coincidências nas quais o destino é fértil, apaixonara-se pelo mais estúpido de todos os mancebos que conhecia.
Assim, só lhe restava continuar a sonhar com unicórnios, cavalos alados, dragões que cospem fogo, bruxas com caldeirões e sapos verdes.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O indivíduo do chapéu de palha


À boa maneira do cinema, tirou o chapéu da cabeça e atirou-o para o cabide. Na maioria dos filmes trata-se de montagens mas aqui isso não foi preciso porque acertou à primeira.
Fechou a porta de casa, dirigiu-se para o sofá e sentou-se, sorrindo da sua pontaria. Ou sorte, também poderia ter sido sorte.
Tirou as botas, deitou-se ao comprido com a cabeaça sobre uma almofada e adormeceu. O chapéu é que não gostou de ter sido abandonado.

terça-feira, 18 de abril de 2017

O outro lado do espelho


Entre uma realidade e outra, há quem viva no irreal mundo virtual.
"Ecrã meu, ecrã meu, como é que faço para parecer que sou eu?".

segunda-feira, 17 de abril de 2017

O beco


"You can check-out any time you like
But you can never leave"
(Eagles, Hotel California)

Jà quase todos tinham saído. Uns porque morreram, outros porque se mudaram para outras terras. Havia ainda os que estavam em vias de se mudar.
O beco já não é o que era. As opiniões dividiam-se. Se era bom ou mau, dependia do ponto de vista.
Em todo o caso, era a prova de que a eternidade não existe. Por vontade própria ou não, as mudanças acontecem. É a vida. A vida é mudança, e quem não percebe isto não percebe mais nada.
Restava um. Era como se fosse o último dos Moicanos.


domingo, 16 de abril de 2017

Jam


Uma tarde inteira que não rendeu nada em termos práticos. Mas que foi muito produtiva. Corrigi um erro crasso que estava a cometer. Obrigado Zé.
É uma correcção que não vai ser pacífica. Há dois anos que cometia este erro e os dedos já estavam automatizados. Ao mudar de Fá para Sol, a mão estava a avançar e era meio caminho andado para a posição seguinte. Ao ter de manter o dedo 3 em Ré, tenho de dar um salto maior com a mão, e mais rápido, para chegar a tempo. Vai demorar umas horinhas de prática até re-automatizar os movimentos.
Não conseguimos gravar a música, tal como tinhamos pensado. Quando parecia que estava quase... a &%#$€@ da máquina desligou-se. e só vimos isso no fim.
Não é a primeira vez que isso acontece, e não sei porquê. Não é por falta de bateria nem por o cartão de memória estar cheio. Desliga-se pura e simplesmente.
O video é apenas um resumo do que se passou.
O Zé Pedro vive no Porto e só está aqui ocasionalmente. Aceitam-se inscrições para novas sessões :-)

sexta-feira, 14 de abril de 2017

O jardim dos bichos da seda


É natural que com tanto alimento cresçam muito e ponham ovos assim tão grandes como este.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

A rua do meio


Quando um dia te fartares
De por a roupa à janela
Só tens de mudar de ares
Ir viver p'ra casa dela

Sei que estás habituado
Viver em casa sozinho
Gostas de ir a todo o lado
Percorrer qualquer caminho.

A tua rua do meio
É o mundo onde cresceste
Não é bonito nem feio
É onde tudo aprendeste.

Sei que és um renitente
Não queres mudar de vida
Não trocas o teu presente
Por uma viagem só de ida.

Por isso lá da janela
Onde a roupa está estendida
Vês ao longe a rua dela
Que por ti já foi esquecida.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

Na beira do Lago Azul


Havia uma cadeira. Era quanto bastava. O resto improvisava-se.
A cadeira arrastava-se até à beira da água. Duas pedras, colocadas por baixo dos pés da frente, uma de cada lado, ajudavam a contrariar a inclinação do declive, mantendo o assento o mais direito possível. Outras duas pedras, grandes, ajudavam a segurar o chapéu de sol, que o chão era duro e difícil de perfurar.
Estava montado o cenário. Agora era só sentar e ficar ali a tarde toda a ler, com os pés a chapinhar na beira da água.
A tarde toda não que de vez em quando era preciso levantar para reabastecer de cerveja.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Verdes são os campos


"I asked my love to give me shelter
And all she offered me were dreams"
(Yes, Run through the light, album Drama)

Às vezes os sonhos nem chegam a nascer e desvanecem-se como gelo que se derrete ao Sol.
Os caminhos terminam em obstáculos intransponíveis e a única solução é o regresso pisando o mesmo chão.
À volta os lobos uivam. E é tão mais fácil fazer amizade com os lobos.

Os campos só são verdes enquanto durar a estação das cores.
A vida, mesmo em tons de cinzento, continua para lá da queda castanha das folhas.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Maior que o pensamento


Porque é Abril, porque é o ano em que se comemoram os 30 anos da morte de José Afonso, tinha de fazer este quadro.
No entanto é um trabalho que não pode ir para a minha galeria de trabalhos em madeira, porque não fui eu que fiz a moldura, limitei-me a fazer um pequeno restauro numa já antiga.

https://www.youtube.com/watch?v=5BQrcJKjvL0

Amigo maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
Em toda a parte todo o mundo tem
Em toda a parte todo o mundo tem
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

domingo, 9 de abril de 2017

Descalço vai para a fonte


Está a começar a época do ano de andar descalço.
E com os pés sujos.
E cheios de micróbios.
E de bactérias.
A bem da saúde.
A mental e a outra.

sábado, 8 de abril de 2017

GDST - Coleccionismo


Hoje foi dia de coleccionar pacotes de açúcar. O Grupo Desportivo Santander Totta organizou um convívio de coleccionadores e lá fui eu.
Não preparei as coisas como gostaria. Sou aprendiz de guitarrista, aprendiz de carpinteiro, aprendiz de agricultor, como é que eu posso ter tempo para os pacotes de açúcar?
Peguei em três pastas da minha colecção para mostrar algumas formas diferentes de arquivar, peguei numa caixa com repetidos desde o último encontro de coleccionadores a que fui há quatro ou cinco anos, à qual juntei à pressa algumas séries repetidas recentes e foi tudo o que consegui.


Tenho tudo atrasado. Tenho as séries arrumadas por ordem cronológica até 2013. Daí para cá...
Quanto aos pacotes individuais é melhor nem falar.
Eu próprio sou um atraso, tanto que hoje nem consegui chegar a horas, cheguei atrasado. O lado bom dos atrasos é que às vezes há surpresas positivas e eu hoje tive uma. O carro ficou estacionado bem longe da sede do grupo desportivo, e no trajecto encontrei uma pessoa conhecida. Melhor dizendo, a pessoa é que me encontrou a mim, que eu além de atrasado sou desastrado.


Trouxe alguns pacotes que não tinha. Não foi o mais importante. O mais importante mesmo foi o convívio com os (poucos) coleccionadores que já conhecia e com os que passei a conhecer hoje.
Se o tempo livre ajudar, espero da próxima vez ter as coisas mais bem arrumadas


O pós almoço não foi muito longo porque tinha à minha espera uma mudança de casa para ir ajudar.
Obrigado a todos os companheiros pelo dia de hoje e espero que nos voltemos a encontrar.
















sexta-feira, 7 de abril de 2017

Кунжутная паста


Ofereceram-me um frasquinho com um produto lá dentro. O rótulo diz "Кунжутная паста".
O nome não pressagiava nada de bom, mas como quem o ofereceu merece toda a minha confiança, decidi averiguar a questão.

Lancei os dedos ao teclado e pesquisei no Google. O que o rótulo diz é simplesmente "pasta de sésamo (gergelim).
E agora? O que fazer com isto?
Mais umas quantas pesquisas com poucos resultados, porque o que me apareciam eram receitas para fazer a pasta. O que até é bem fácil e fiquei a saber que é um produto originário do Médio Oriente e o nome original é "tahine".

Mas o que eu queria mesmo eram receitas de como usar a pasta já feita, e depois de muito pesquisar encontrei.

http://www.eucomosim.com/receitas/receitas-com-tahine/


Nem foi preciso procurar mais. Esta receita tinha um ingrediente milagroso, o grão, e mesmo que o resultado final não fosse bom, podia comer apenas o grão.
É que melhor do que um prato de grão, só dois pratos de grão.


Mas... olhando bem para o cardápio de produtos, há ali muita coisa que precisa de ser mudada.
Mais do que fazer uma mudança, é preciso fazer uma melhoria.
Cebola? Alho? Salsa? Argh!
Não há memória de um prato meu com esses ingredientes.


Feitas as contas, a coisa ficou assim:
A parte do grão contém: grão, azeite, manjericão (em vez do cominho que não havia), canela e sal.
Mudei (e retirei) alguns ingredientes, mas mantive as mesmas proporções da receita original.


A parte do molho ficou assim:
Pasta de gergelim, alho em pó, sumo de limão, azeite, mel, sal, pimenta, água.


Para a salada usei como ingrediente principal a alface. Salada que é salada tem de ter alface. Na terra de onde eu venho, a distante galáxia de O-Direito-À-Diferença-Existe-E-Quem-Não-Aceita-Deve-Ser-Morto, as palavras salada e alface são quase sinónimos.
Os restantes ingredientes, além da alface são a cenoura ralada, passas, queijo fresco, sal, pimenta.


E chegou a hora da prova. Tal como os imperadores romanos, eu também tenho um bocado de medo de ser envenenado.
A minha apreciação final é que feito por mim estava delicioso. Sobrevivi e estou à espera da minha estrela Pirelli.

It is approved Inna, You can send more, eh eh eh.
Спасибо


quinta-feira, 6 de abril de 2017

Flores de quê


Esta é a árvore das flores de quê.
Quando a árvore der frutos, ficarei a saber do que são as flores e do que é a árvore.
Por enquanto não sei.
Se isto fosse uma casa de apostas, eu apostaria em ameixeira, mas sem muita convicção.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Na noite


Confesso que já não me lembrava. Tantos anos se passaram, tantas memórias já esquecidas, tantas imagens desvanecidas e distorcidas.
Os sonhos têm essa capacidade, de nos fazer transcender as limitações que a vida física nos impõe. Mas nos sonhos também se cometem erros. E eu comecei logo pelo erro de não te reconhecer.
Estavas ali, mas para mim eras uma estranha. Foi preciso que me dissesses quem eras.
O meu primeiro pensamento foi: "Como a vida é estranha". Mal sabia eu que aquilo não era vida, era sonho. São coisas diferentes, sabes? Digo-te eu.
Não te disse, mas pensei que a vida é realmente estranha. Foste-te embora e no entanto estavas ali. Porque voltaste? Não ousei perguntar. Não tinhas mais nada para fazer, disseste um dia. O que estavas ali a fazer agora? Não quis saber.
Estavas ali e eu deixei-te ficar, como se fosse uma coisa natural. Cometi um erro mas tenho desculpa, pois não sabia que era um sonho.
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