Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 30 de setembro de 2017

Uma subida sem glória


Quando não se tem pressa, qualquer que seja o ritmo da passada serve. Eu não tinha pressa por estar contigo, mas tu, vá-se lá saber porquê, estavas com pressa, como aliás acontecia sempre que estavas comigo.
A subida era difícil, o calor era muito, e eu pensei, ó ingenuidade, que estava ali a minha oportunidade para te dar a mão, com a desculpa de te ajudar a subir.
Talvez me tivesses lido os pensamentos. Que não, disseste, não precisavas de ajuda. Como prova disso fizeste a subida toda dois passos à minha frente.
Não eram precisas muitas palavras para eu perceber, mais uma vez, que não querias nada comigo.
Quanto à subida, não digas a ninguém, mas fui eu que te deixei ganhar.


No limite do olhar


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

No princípio era o vento


Passava por aqui o processo da multiplicação dos pães.
Mas, não sendo deus nem milagreiro, o moleiro nunca viu reconhecida a importância da sua actividade. Numa sociedade sempre dividida em classes, ocupava um lugar tão baixo que não resistiu à passagem do tempo e do vento, que lhe levou as velas e deixou o seu modo de vida reduzido a uma parede oca encimada por um chapéu de tábuas já sem préstimo.
Hoje em dia os pães multiplicam-se com a ajuda de máquinas eléctricas, muita água e és trezentos e qualquer coisa. Tanto pão assim serve apenas para alimentar o padeiro nosso que há em cada esquina.
Porque continua a haver classes ainda mais baixas do que a do desaparecido moleiro, que continuam com fome.


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O passo


Estas são as marcas que o vento soprará, a água varrerá, mas a memória não esquecerá.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Há uma linha que (nos) separa


Gritei bem alto mas já ias longe demais para me ouvires. O vagaroso eléctrico é suficientemente rápido para nos afastar.
Talvez se olhasses para trás me visses acenar. Mas não viste porque o teu caminho só tem uma direcção, que é em frente.
Cansado, tentei correr, mas as pernas fraquejaram. Desanimado, tentei sorrir, mas as lágrimas não deixaram.
E só tinha visto uma parte do caminho. Depois da curva vem a infinita recta.
Talvez seja esse o segredo. As duas linhas só se mantém paralelamente juntas porque nunca se tocam.

domingo, 24 de setembro de 2017

A medalha


Esta é a minha primeira medalha... de plástico.
Porcaria de prova. Eu já não estava a gostar de não ver as marcações quilómetro a quilómetro que uma prova deste nível deveria ter, e ainda menos gostei no final quando recebi este bocado de plástico.
O que me chateia mais é que vou ter de lá voltar mais uma vez no próximo ano para fazer um tempo decente. Este foi mau demais mas estava controlado, eu sabia que ia ter dificuldade em acabar a prova devido aos poucos treinos que tenho.
Fui lá fazer um teste e esse correu lindamente. Fui fazer um teste à cabeça, para ver como estava a minha capacidade de motivação para voltar às provas 17 anos depois.
Ainda não sei qual vai ser a próxima mas já estou a prepará-la.

sábado, 23 de setembro de 2017

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Ao som dos grilos


O longo entardecer nada mais tem para dar do que a promessa da chegada da noite que se deseja fresca. Não há vento e se houvesse era quente. As camisolas suadas coladas aos corpos são um bem a preservar porque os mosquitos preparam o seu cortejo infernal.
Não há vento e se houvesse não levaria o calor embora. Nem os mosquitos.
Há sempre lugar para uma cerveja, mesmo contra os conselhos da balança, do espelho e do cinto das calças.
O calor dilata os corpos, menos os ponteiros do relógio, que a noite nunca mais chega. E se calhar têm razão para não avançar. O tempo e o mundo parecem parados.
Até o som parece abster-se de chegar a este canto do planeta. Ouvem-se apenas os grilos e algum mergulho ocasional dos patos no rio com o seu nome.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Aldeia da roupa branca


Já foi vila e até sede de conselho. Hoje é apenas uma aldeia que tem roupa branca dos quatrocentos e três habitantes que o censo de dois mil e onze lhe contou.
Fica no interior norte do país, é atravessada por um rio que começa pela letra vê (que é afluente de outro rio começado pela letra dê), sobre o qual foi construída uma ponte com uma torre, única no país.
Trata-se da aldeia de?
São seis letrinhas apenas...


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Jeovás


Jeovás
Não vás
Deixa o mundo em paz
Guarda os papelinhos
Recolhe os teus livrinhos
O que o mundo precisa é de miminhos


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Bancada de trabalho, parte 8


E pronto, agora é que está quase. Eu gostava que fosse quase quase, mas não é, é apenas quase. Ainda faltam alguns pormenores, como por exemplo a guia de paralelismo em baixo, que implica ter de abrir um buraco na perna da bancada e perfeitamente alinhado com outro buraco idêntico (ainda por fazer) na parte móvel do torno.

A parte mais difícil já está, agora é só uma questão de arranjar tempo para o resto. Com o torno pronto já poderei finalmente fazer a incómoda cómoda. Sim, não está esquecida, mas preciso primeiro do torno porque vai ser tudo feito a partir do zero. Aproveito as gavetas e o resto é tudo novo.

E tenho de me despachar porque está a chegar a época das chuvas.





sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O turista ocidental acidental


Às vezes até caem, são tão engraçadinhos benza-os deus.
E não há vossa senhora do cabo que lhes valha.



quinta-feira, 14 de setembro de 2017

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O turista acidental


Às vezes há circunstâncias que nos desviam das nossas rotinas. E então, mesmo não sendo de forma intencional, vemos coisas que nunca vimos, ou, pior ainda, que temos diante dos olhos mas em que nunca reparámos.

sábado, 9 de setembro de 2017

A invenção


O que vai sair daqui ainda não se sabe bem. Talvez alguma coisa, talvez nada, ou talvez uma porcaria que não funcione conforme esperado. Vamos esperar para ver.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Chalet escondido com o telhado de fora


Eu que nunca pesquei um peixe


Não partam já
Ainda agora o mar chegou
Podemos lavar as mãos
Tirar a areia dos pés
Depois escolher o lugar
Espetar a cana no chão
Lançar o isco e o anzol
Desenrolar toda a linha
E enquanto o Sol se deita
Na areia branca das praias
Do outro lado do mundo
Aguardamos pela Lua
Imersos na escuridão
Temendo os monstros marinhos
Fruto da imaginação
Das sombras e reflexos
Do mar sempre em movimento
E o ribombar da maré
Que o vento por seu trabalho
Amplifica até cem vezes.
Sentados numa cadeira
Esperamos um sinal
Um puxão, esticão na linha
Que nos faça levantar
E sentir que já está ganho
O dia, por uma noite.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O trilho


Um trilho de areia onde os pés se enterram e a marcha se retarda. Como se fossem os restos fossilizados do Trans-Alentejano, uma linha imaginária que nunca existiu e onde nunca circularam comboios.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Nuvem rolo


Não tenho zoom na máquina, por isso não pude captar uma área mais vasta de imagem. Ainda assim, percebe-se ainda que vagamente que a nuvem é um rolo comprido que se estendia a perder de vista tanto para um lado como para o outro.

Na Wikipedia chamam a isto Morning glory cloud. Esta não foi captada de manhã mas sim ao fim da tarde, talvez por isso não é perfeitamente cilíndrica como algumas outras cujas imagens se encontram na net.

domingo, 3 de setembro de 2017

Os meus trabalhos em madeira: Suporte para copos


Suporte para copos, em madeira de pinho envernizada. Um modelo normal e uma versão romântica para um jantar a dois.


Deu muito trabalho tirar as fotos. A questão das sombras era fundamental para que ficassem minimamente decentes.
Após algumas experiências, cheguei à conclusão que dentro de casa não dava.
Restava a rua, mas estava vento. Tinha como fundo duas placas de esferovite e tornou-se difícil segurá-las.


Depois de tudo pronto, fotografias tiradas, coisas arrumadas de volta, fui ver as fotos no computador.
Um nojo.
Com o fundo branco não se viam os copos.
Tinha de fazer tudo de novo, mas entretanto era hora de almoço.


Almoço terminado, encontrei uma folha de cartolina vermelha, parecia ideal para o que pretendia.
Só que... na escada das traseiras, onde tirei as fotos de manhã, estava agora a dar o Sol, o local já não servia.


Muita procura depois, encontrei uma varanda no outro lado da casa. O vento estava mais forte ainda, a cartolina tece de ser presa à parede com fita cola.


O resultado foi este, foi o melhor que consegui. Como as madeiras são envernizadas, têm muito brilho e não consegui evitar os reflexos todos. Talvez com um filtro polarizador mas não tenho.


Um dia destes hei-de fazer uma soft box.


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Partem em bandos


Partem. Para logo de seguida voltar. Ou mais logo, quando lhe apetecer.
É assim a vida de pássaro, vôos constantes, curtos ou longos, seguidos ou espaçados, sem lógica, sem destino, só porque sim.
Talvez não faça sentido à observação humana, mas e dentro da cabeça do pássaro? Faz sentido?
O que é isso de fazer sentido?, pergunta o pássaro.