Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Meio Metro


O Metro do Porto expandiu a sua rede, com a abertura da linha F. Se cada vez que acrescentam mais meia dúzia de metros de carril atribuem uma letra do abecedário, qualquer dia não há letras que cheguem.

Do meu ponto de vista, os transportes públicos são inquestionáveis, e subscrevo totalmente tudo o que sejam políticas para os dinamizar e melhorar, DESDE que sirvam para melhorar a qualidade de vida das pessoas que os utilizam, e não para promover vaidades inauguracionistas e dar dinheiro a ganhar a empreiteiros, sub-empreiteiros, sub-sub-empreiteiros, etc.

Nos últimos anos tem-se assistido a um ataque cerrado aos diversos meios de transporte, tudo em nome do lucro. Tal ataque vai desde a redução de horários e supressão de carreiras, até ao aniquilamento completo de ramais ferroviários inteiros.
Dão-se ao trabalho de apresentar estatísticas com o número de utentes para justificar o que considero injustificável.

Porém, agora ocorreu uma situação inversa. Abriu uma estação de metro que, pela sua localização, poucos ou quase nenhuns utilizadores terá.
A linha F tem uma estação chamada Nau Vitória, que fica precisamente ao fundo da Rua da Nau Vitória.
A rua da Nau Vitória até começa numa zona da cidade com bastante movimento. Recentemente até tem mais do que o normal porque numa das suas esquinas fica uma loja da ptui, Via Verde. Depois começa a descer, descer, descer, descer, os prédios e o movimento vão diminuindo, continua a descer, descer e quando chega ao meio de nada, zás, temos a estação do metro.

Não se trata de um simples apeadeiro, como as estações que estão imediatamente antes e depois, é uma estação desnivelada, com dois pisos, elevadores, escadas rolantes, muito cimento. O cimento, como toda a gente sabe, é o melhor amigo do empreiteiro. É feito com água, e tudo o que leva água é óptimo para o negócio.
Ou seja, foi uma obra de muitos milhares com uma rentabilidade se é que se pode chamar assim, diminuta, porque os passageiros ao poucos.

Os títulos de transporte têm de ser validados electronicamente, portanto a empresa sabe com exactidão quantos utilizadores tem a estação. E esta tem muito poucos.
Gostava que a empresa tivesse a coragem de divulgar os números para que se veja que são inferiores a muitos que em ocasiões anteriores serviram de pretexto para alguns encerramentos.
As imagens anexas ajudam a compreender a localização e a imaginar o movimento. Os arruamentos envolventes são também novos, porque ali anteriormente não havia mesmo NADA.





sábado, 22 de janeiro de 2011

Adeus Porto (parte III)


O divórcio

“Cara Cidade

Acho que chegou a hora de nos separarmos. Não temos mais nada a ver um com o outro, aliás creio que nunca tivemos, a nossa união, de facto, foi um erro.
Penso que o maior problema foi que nunca nos entendemos, por falarmos línguas diferentes.
Quando me disseste para ir para a tua beira, dirigi-me primeiro ao interior do país, antes de descobrir que és de Massarelos.
Quando me dizias todas as noites que estavas ourada, eu percebia “dourada” e pensava que tinha os meus problemas financeiros resolvidos.
Quando me disseste que querias um molete, pensei que estavas a reclamar do meu durex.
Não percebo porque me dizias que não gostavas das minhas espinhas, se eu não sou peixe, sou gémeos.
Gostava dos teus elogios quando me chamavas trengo ou sostro, só não percebia porque dizias isso com ar que quem me queria bater.
Em termos gastronómicos as coisas também não correram melhor. Não gosto das tuas tripas, tal como tu não gostas dos legumes da minha horta. (1)
Até que chegou o dia em que me mandaste ir para a postura.
Pois bem, como eu sempre tive uma postura vertical, excepto quando estou deitado, tive que te deixar e acabar com tudo.
Cansei-me que tentasses endrominar-me com as tuas histórias, como por exemplo estares sentada à mesa e dizeres que te entalaste ou estares a arrumar a loiça no armário e dizeres que te atracaste. A quem? A mim não foi, porque nunca demonstraste interesse pela minha âncora.
Vai no Batalha.

(1) referencia à condição de ex-vegetariano do autor.”

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Adeus Porto (parte II)


Do outro lado da ponte, que é uma passagem, está a outra margem. Ou será uma miragem?
Por baixo corre o Rio Douro, de águas cinzentas da cor do céu, cujas nuvens, indiferentes a quem passa, se transformam em água que engrossa o caudal do rio. É época das chuvas, estamos em Novembro.
Por cima, como que a tentar colorir a paisagem, um arco-íris deslavado pelo sol enfraquecido do fim da tarde, indica a localização de um pote cheio de moedas de ouro para lá de onde a vista alcança.
Pelas minhas contas assim de cabeça, o arco-íris terminava para os lados de Contumil. Foi para aí que me dirigi.
Nada. Nem uma única moeda, quanto mais um pote de ouro. Ainda tive que pagar para procurar o fim do arco-íris.
Ao fim de nove anos na terra de Ramalho Ortigão, de novo uma ponte e outra margem pela frente. A ponte até pode ser a mesma, mas a margem é mesmo outra, e desta vez não é uma miragem.
A carteira continua tão cinzenta como a cor do céu à chegada. O pensamento, fruto das lições da vida, roubou as cores do arco-íris. E não tenciona devolvê-las.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Adeus Porto (parte I)



Não ficas eternamente na memória porque a eternidade não existe.
Ficas enquanto eu tiver memória.
Enquanto me lembrar das coisas boas que quero recordar e das más que não consigo esquecer.

Até à próxima.

Ah, sim! Porque vai haver próxima.
Não te vês livre de mim assim tão facilmente.
Eu hei-de voltar.
Não é uma promessa, é uma ameaça.