Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Adeus Porto (parte III)


O divórcio

“Cara Cidade

Acho que chegou a hora de nos separarmos. Não temos mais nada a ver um com o outro, aliás creio que nunca tivemos, a nossa união, de facto, foi um erro.
Penso que o maior problema foi que nunca nos entendemos, por falarmos línguas diferentes.
Quando me disseste para ir para a tua beira, dirigi-me primeiro ao interior do país, antes de descobrir que és de Massarelos.
Quando me dizias todas as noites que estavas ourada, eu percebia “dourada” e pensava que tinha os meus problemas financeiros resolvidos.
Quando me disseste que querias um molete, pensei que estavas a reclamar do meu durex.
Não percebo porque me dizias que não gostavas das minhas espinhas, se eu não sou peixe, sou gémeos.
Gostava dos teus elogios quando me chamavas trengo ou sostro, só não percebia porque dizias isso com ar que quem me queria bater.
Em termos gastronómicos as coisas também não correram melhor. Não gosto das tuas tripas, tal como tu não gostas dos legumes da minha horta. (1)
Até que chegou o dia em que me mandaste ir para a postura.
Pois bem, como eu sempre tive uma postura vertical, excepto quando estou deitado, tive que te deixar e acabar com tudo.
Cansei-me que tentasses endrominar-me com as tuas histórias, como por exemplo estares sentada à mesa e dizeres que te entalaste ou estares a arrumar a loiça no armário e dizeres que te atracaste. A quem? A mim não foi, porque nunca demonstraste interesse pela minha âncora.
Vai no Batalha.

(1) referencia à condição de ex-vegetariano do autor.”