Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ondas verdes

                                               Alentejo, Barragem de Santa Clara, Setembro de 1994

Já abri umas dez gavetas e nada, não consigo encontrar. Bom, não é bem assim, eu nem sequer tenho dez gavetas cá em casa, é um exagero eu sei, quero eu dizer que já abri muitas gavetas à procura de uma carta que preciso com urgência e não encontro.
Fechei esta com estrondo e abri a seguinte. Tirei para fora tudo o que lá estava dentro e recomecei com a procura. Fui pondo os papéis um a um de volta na gaveta à medida que os ia vendo, até deparar com um envelope. Pelo volume devia ter várias coisas lá dentro.
Abri-o. Eram fotografias. Não era isso que eu procurava, mas olhei-as de relance enquanto as voltava a por dentro do envelope. Até que os meus olhos ficaram presos numa delas. Segurei-a com as duas mãos, sem tirar os olhos dela, e sentei-me numa cadeira.
Lembrava-me bem de a ter tirado. Lembrava-me do local, lembrava-me do dia, lembrava-me de…
A encosta ficava sobranceira à margem da barragem. O arvoredo, acompanhando a curvatura suave do declive formava como que ondas que se estendiam até ao sopé da encosta, mesmo junto à linha de água. Na margem oposta da pequena enseada, eu, a máquina fotográfica e…
Lembrava-me até bem demais. Lembrava-me tão bem que ali sentado, fui desenrolando o novelo das memórias, calma e vagarosamente, até ser chamado à realidade pelo toque do relógio de parede do vizinho.
Bolas, o banco quase a fechar e eu ainda à procura da porcaria da carta.