Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

sábado, 2 de agosto de 2014

Peixeirada

                                           Lisboa, Oceanário, 2 Agosto 2014

Não se sabe bem o que terá acontecido naquela distante madrugada, quase manhã em que, como habitualmente, dormia ainda embalado pelas ondas que naquela altura do ano corriam planas pelo vasto oceano, sopradas pelo vento de sudoeste.

Sonhava, e no sonho imaginava-se a subir ao degrau mais alto do pódio e a receber a medalha de ouro pela vitória na maratona das Atlantiadas de 1996. Sim, era um verdadeiro carapau de corrida.

De repente, um barulho ensurdecedor e uma agitação tremenda das águas quase o fizeram acordar. Quase, porque nem teve tempo para isso, quando ia a abrir os olhos, uma pancada na cabeça pô-lo inconsciente. Não se lembrava de mais nada.

Quando finalmente acordou, o primeiro pensamento que teve foi que tinha morrido, mas depressa se apercebeu que não. Continuava dentro de água. Só que…
Estava num sitio diferente e não sabia como tinha ido ali parar. Tudo era diferente. A água tinha um gosto horrível, havia peixes com aspectos grotescos como nunca tinha visto, e falavam uma língua que não conhecia, só ao fim de muito tempo conseguiu encontrar outro carapau, e esse também não sabia porque estava ali.
Não havia correntes, não havia ondas, só peixes estranhos e ervas que pareciam de plástico.

Até que o coração parou de bater e um grito lhe escapou do fundo das guelras: ao contornar umas rochas viu parado à sua frente o ser mais horroroso que já tinha visto, um ser humano que do outro lado do vidro olhava embasbacado o oceanário.