Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 14 de abril de 2015

O vazio


Um último adeus à janela. Depois o vidro fechou-se que a noite estava fria. O carro arrancou, primeiro devagar, depois mais rápido à medida que os quilómetros iam passando. Acelerou, embora não tivesse pressa, não tinha horas para chegar porque não tinha sítio aonde ir. Queria estar concentrado na condução, ter algo que lhe ocupasse o cérebro, porque assim não pensava em mais nada.
Sim, era uma fuga, sabia disso. Sabia que mais tarde ou mais cedo teria que voltar a enfrentar a realidade, quanto mais não fosse porque a gasolina acabaria. Mas enquanto pudesse queria fugir aos pensamentos que vinham atrás de si, que o agarravam pelos ombros e o abanavam, mostrando-lhe que não tinha futuro porque o presente tinha ficado lá atrás, no passado.
À medida que as horas iam tomando conta da noite e o cansaço ia entorpecendo os músculos, a razão foi vencendo a depressão. Fez meia volta, e iniciou o caminho de regresso. Pelo meio teve tempo para se recriminar a si próprio por ter deixado as coisas chegarem ao ponto a que chegaram.
Há muito que devia ter desistido. A liberdade, a mesma liberdade que reclamava para si, dera-a aos seus pensamentos, e claro está que pensamentos livres são indomáveis, deixou de ter mãos neles.
Chegou finalmente a casa. Estacionou o carro, abriu a porta e saiu. Parecia que se sentia mais leve. Era do vazio que sentia dentro de si.