Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

No médico


- Então, de que é que se queixa?
- Olhe doutor, eu estou muito mal disposto, agoniado, só me apetece vomitar… iogurtes, vejo iogurtes por todo o lado, tenho alucinações com iogurtes, vejo colheres cheias de iogurte a virem atrás de mim em câmara lenta…
- Mas comeu assim tantos iogurtes?
- De certa forma sim, doutor, com os olhos, sabe eu estou na sala de espera há mais de duas horas, tenho estado sentado em frente ao ecrã onde aparecem os números das senhas, e que por uma infeliz coincidência também mostra o programa da manhã de um canal qualquer, eu nunca vi tantos anúncios de iogurte na minha vida doutor, salve-me doutor, eles vêm atrás de mim doutor…
- Calma, tenha calma… vamos lá medir a sua atenção…
- Pois, bem me parecia, a sua atenção está um bocado alta. Eu vou receitar-lhe um chapéu de abas largas, quando voltar a estar em frente de um ecrã, enfie-o pela cabeça abaixo, mas atenção, não o enterre até às orelhas, senão além de não ver nada também não ouve quando chamarem a sua senha.
- Sim senhor, senhor doutor.
- Pronto, aqui está, pode aviar a receita em qualquer chapelaria.
- Eles têm genéricos?
- Genéricos só numa loja chinesa.
- Ah sim, muito obrigado doutor.
- Pronto, bom dia e as melhoras.
- Bom dia doutor.
- Mas… espere lá, você vai aí assim a coxear?
- Quem? Eu?... Ah, sim, veja lá, que cabeça a minha, foi mesmo por causa do pé que eu vim às urgências…