Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

terça-feira, 7 de julho de 2015

A cidade


A cidade

A cidade é um mar de gente.
As marés humanas, cíclicas, movem-se
Ao sabor dos interesses da propaganda.
“Todos à praça, vamos festejar”
Vamos deixar o chão com mais lixo
Do que grãos de areia tem a praia.
Alguém limpará no dia seguinte.
Os interesses privados devem justificar
A razão de serem contratados.

A cidade é um mar, todo cultivado.
Cultivam-se notas, moedas, cifrões.
Estes agricultores vestem fato e gravata,
Não sabem da poda, só sabem da foda.
Têm vastos terrenos, são os donos da quinta,
Têm grandes navios que cruzam oceanos,
Compram e vendem, em negócios sem fim,
Arrecadam o lucro do trabalho dos outros,
Dos que vivem nas rochas, dos que são mexilhões.

Na cidade há canais
Onde correm rios de gente,
Levados na enxurrada
Da azáfama diária,
São um rebanho ordeiro
Que regressa ao fim do dia
Ao ponto de partida.
A cidade é um cais de partida,
Rumo à desumanidade.