Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sombra


Toca o telefone. O número era desconhecido. Estava numa fase em que as chamadas de telemarketing eram às carradas, quatro, cinco e às vezes seis por dia. Deixava-as tocar quando o telemóvel estava longe, atendia e punha-os a falar sozinhos quando o telemóvel estava à mão.
Desta vez hesitou, enquanto o toque soava mais uma vez. O número era realmente desconhecido e estava em dúvida se devia ignorar ou atender. Sem saber porquê, ao terceiro toque resolveu atender.
- Está? É o João? Perguntou a voz do outro lado.
- A maior parte das vezes sou, foi a resposta que dei.
Seguiram-se alguns instantes de silêncio, uma breve hesitação denunciando que não esperava aquela resposta. Por fim disse;
- Aah, isso quer dizer o quê?
- Quer dizer que às vezes há alguém dentro da minha cabeça mas não sou eu.
>Um silêncio maior desta vez. A pessoa que ligou ainda não se tinha apresentado e não fazia ideia de quem era, mas começava a divertir-se com o caso.
- Bom, é a primeira vez que ouço uma coisa dessas.
- Oh, tenho dificuldade em acreditar nisso, acho que a esmagadora maioria das pessoas da Terra, pelo menos as dos países do chamado primeiro mundo já ouviram isto montes de vezes. E não só as pessoas da Terra, os extraterrestes também, aqueles que andam aí às voltas em disco voadores, já ouviram com certeza porque eles apanham as nossas emissões de rádio e isto já passou na rádio milhares de vezes.
Pronto, quem quer que fosse que estivesse do outro lado não precisava de mais para o considerar maluco. Antes que a resposta surgisse começou a cantar:
- "...You lock the door
and throw away the key
There's someone in my head
But it's not me...
... And if your head explodes
With dark forecomings too
I see you on the dark side of the Moon..."