Escritos na varanda

Imagino-me a escrever na varanda, ao fim da tarde, com o Sol a por-se no horizonte e uma bebida gelada ao lado. Como eu nem sequer tenho varanda, tudo isto é ilusão.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A queijadinha


“Olhá queijadinha de Sintra!”
O pregão soou-lhe aos ouvidos instintivamente, mal viu o prato com as queijadas pousar na mesa.
As queijadas de Sintra eram as companheiras das tardes de futebol, no tempo em que ia ao futebol.
Sim, que a vida dá muitas voltas, mais até que o próprio esférico, centro das atenções desportivas. Ou melhor dizendo, alienativas.
E, por várias razões difíceis de explicar, e mais difíceis ainda de entender, tinha deixado de ir ao futebol. Uma das principais, senão mesmo a principal, tinha a ver com a consciencialização de que o desporto em geral e o futebol em particular se tinha tornado num instrumento de alienação colectiva, de controlo de massas.
Mas a verdade é que de vez em quando sentia saudades de alguns momentos passados. Como por exemplo agora, à vista do prato de queijadas.
De olhos semicerrados, de olhar perdido na neblina que descia da serra e que enchia a vidraça da janela que tinha defronte dos olhos, indiferente aos sons e à agitação em redor, recordava alguns desses momentos.
Uma voz mais alta que as demais gritou perto dos seus ouvidos “a conta, faxavor” o que o fez despertar e regressar da nostalgia à realidade.
Então compreendeu porque é que as bolas paradas se movem, e às vezes até entram na baliza. Verificou com os próprios olhos que as queijadas, paradas no prato, também se moveram, todas sem excepção. O café, esse, jazia frio e inerte na chávena à sua frente.
Que bom é estar rodeado de amigos.